La Paz - Os indígenas da Amazônia boliviana que protestam contra a construção de uma estrada financiada pelo Brasil que atravessa seu território retomaram neste sábado (1;/10) sua marcha rumo à sede do governo em La Paz, um desafio para o presidente Evo Morales, que os acusou de ter objetivos políticos.
A caminhada foi retomada de manhã na cidade de Quiquibey (a 300 Km de La Paz), confirmou à AFP o líder indígena Rafael Quispe.
Os nativos querem exigir de Morales que "tome a decisão de modificar o projeto através da promulgação de uma lei que estabeleça expressamente que a estrada não atravessará o Território Indígena e Parque Nacional Isiboro-Sécure (TIPNIS)", diz um comunicado.
Os indígenas consideram que não é "nem legítima, nem válida" a intenção de realizar uma consulta cidadã sobre o tema, uma iniciativa do presidente.
Entretanto, o próprio Evo Morales mostrou-se duro neste sábado em suas críticas aos manifestantes, denunciando que a caminhada tem um objetivo político, o de "fazer fracassar as eleições (de autoridades) judiciais" que serão realizadas em duas semanas, em 16 de outubro.
"É um tema político e não de defesa do meio ambiente", disse o presidente, defendendo os objetivos de integração e do combate à pobreza da questionada estrada que atravessa o TIPNIS.
"Vamos continuar esperando que se estabeleça uma linha de diálogo em algum momento", disse o ministro da Presidência, Carlos Romero, enquanto Rafael Quispe expressou sua desconfiança, porque na semana passada o governo os convidou a dialogar e poucas horas depois uma repressão ao protesto foi realizada.
O maior momento de tensão ocorreu no domingo passado, quando forças policiais intervieram com violência contra a marcha indígena que se dirigia a La Paz, e que ocorre há mais de 30 dias, em uma situação que despertou generalizada condenação da sociedade.
Pressionado pelas circunstâncias da intervenção, Morales anunciou a suspensão temporária do projeto para efetuar uma consulta às regiões envolvidas e pediu desculpas pela violência das forças de ordem.
Os fatos custaram a divisão do governo com a renúncia de dois ministros, depois das quais o líder governista Jorge Silva afirmou que "o MAS (o partido de Morales) atravessa seu pior momento".
Os nativos não querem que a estrada atravesse um território rico em fauna e flora de 10.000 km2 e onde moram 50.000 indígenas, sob o argumento de que o projeto afetará seu habitat natural.
Em apoio a Morales, camponeses próximos ao governismo protagonizaram na sexta-feira na sede do governo uma marcha em cuja passagem ocorreram enfrentamentos com outros cidadãos, mostrando que ainda existe na opinião pública um mal-estar por conta da excessiva violência empregada.
Os camponeses colonizadores, também de tendência governista, anunciaram para o próximo dia 12 de outubro uma grande marcha de apoio ao governo, apesar de terem esclarecido que não bloquearão a passeata dos indígenas da Amazônia.
A Central Operária Boliviana, máxima entidade sindical, deu ao governo um prazo de até a próxima quarta-feira para que ofereça uma resposta definitiva, caso contrário, ameaça convocar uma greve de 48 horas.
Circulam versões sobre um mal-estar nas filas da polícia diante do temor de que as autoridades responsabilizem diretamente alguns membros dessa força pela violenta repressão, já que o governo afirmou que esta não foi ordenada nem pelo presidente nem pelo ministro de governo.