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Presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas rejeita negociação

Foi com decepção que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, recebeu a proposta do Quarteto de Madri para a retomada das negociações de paz. ;Nós não vamos lidar com nenhuma iniciativa que não contemple a suspensão dos assentamentos judaicos ou as negociações sobre as fronteiras anteriores a 1967;, afirmou. Ao mesmo tempo, Abbas disse crer que os países-membros do Conselho de Segurança devem encerrar em breve o debate sobre a plena admissão da Autoridade Palestina à ONU. ;Estamos falando sobre semanas, não meses;, comentou. Por sua vez, Azzam Al-Ahmad, uma das lideranças do partido Fatah, alertou à agência Maan que ;os palestinos esperarão duas semanas;. De acordo com o chanceler Riyad Al-Malki, o plano do Quarteto é ;insuficiente;. ;A única coisa nova que o Quarteto apresentou foi um cronograma para discutir as questões de segurança e de fronteiras;, criticou o ministro.

Horas após a recusa de Abbas, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, se disse disposto a aceitar, sob condições, o plano do Quarteto. ;Se o Quarteto pede a retomada das negociações diretas sem condições prévias, acredito que se trata de algo importante;, admitiu à tevê estatal de Israel. ;Eu tenho que estudar a proposta, consultar meus assessores e o gabinete. (...) Espero que os palestinos compreendam que no fim das contas não será possível enganar as negociações;, concluiu.

Na sexta-feira, o Quarteto apresentou uma declaração, por meio da qual prevê um encontro ;preparatório; entre os israelenses e os palestinos. ;Nessa reunião, haverá o comprometimento dos dois lados de que o objetivo de qualquer negociação é alcançar um acordo até o fim de 2012;, afirma o texto. Segundo a proposta, em três meses serão apresentadas propostas sobre as questões territorial e de segurança. O Quarteto espera ver ;progresso substancial dentro de seis meses;. Uma conferência internacional a ser realizada em Moscou, ainda sem data marcada, impulsionará esses temas.

Majed Abusalama ; coordenador da Rede de Grupos da Juventude Palestina na Faixa de Gaza ; é enfático: ;Não podemos confiar em Israel. Estamos negociando com eles há 23 anos e nada obtivemos;. O ativista defende que o governo de Netanyahu abandone as terras invadidas em 1967. ;É ridículo que eles nos peçam para voltar à mesa de negociações sem forçar os israelenses a cumprir com suas promessas;, critica, pela internet. Para ele, a inclusão dos temas das fronteiras e da colonização, em qualquer debate, é um direito de seu povo. ;São demandas que temos feito há bastante tempo e que contemplam apenas 22% da histórica Palestina;, acrescentou.

Conselheiro político da Embaixada de Israel, Leo Vinovezky afirma que seu governo considera propostas que destaquem a necessidade do diálogo bilateral, como a oferecida pelo Quarteto e defendida pelo presidente americano, Barack Obama. ;Não como uma solução, mas como uma plataforma para o relançamento do processo de paz;, disse ao Correio. ;E sempre que essa plataforma contemple a necessidade que Israel tem de ser reconhecido como Estado judeu.; Vinovezky sublinha que Netanyahu advertiu que o perigo está na interpretação de Abbas sobre a questão das fronteiras. ;Para o presidente palestino, Israel ocupa todo o território anterior a 1967;, explica. O diplomata lembra que Israel já desocupou vários territórios ; como a Judeia, a Samaria e toda a Faixa de Gaza ;, e não obteve segurança. ;Nos acordos com o Egito e a Jordânia, os EUA nos ajudaram a manter diálogo direto.;

Em clima de comoção, os palestinos enterraram Essam Kamal, de 35 anos. Pai de oito filhos e natural de Qusra, perto de Nablus, ele foi morto anteontem por tropas israelenses. O Exército usou munição letal depois que palestinos e colonos começaram a jogar pedras uns nos outros.

Esforço pela diplomacia
O grupo foi criado em 2002, na capital espanhola, em resposta à escalada de violência no Oriente Médio. Para estimular a retomada do processo de paz entre israelenses e palestinos, o Quarteto nomeou o ex-premiê britânico Tony Blair como enviado especial à região. Integram a entidade, ainda, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon; a chefe de política externa da União Europeia, Catherine Ashton; a secretária de Estado norte-americana, Hillary Cliton; e o chanceler russo, Sergei Lavrov.