ERFURT, 24 setembro 2011 (AFP) - Bento XVI criticou, neste sábado, as igrejas alemãs, segundo ele bem organizadas, mas pouco eficientes, e também afirmou que as ditaduras nazista e comunista - que vigorou na extinta República Democrática Alemã (RDA) - tiveram o efeito de uma chuva ácida sobre a fé cristã, no terceiro dia de visita a seu país, onde foi calorosamente recebido em Freiburg (sudoeste).
No dia seguinte de um encontro com cinco vítimas de abusos sexuais por parte de clérigos católicos e de uma homenagem a Martinho Lutero em Erfurt (leste), 25 mil pessoas receberam o Papa em Freiburg, cidade católica da região de Baden.
Um forte esquema de segurança foi mobilizado. Pela manhã, houve um incidente em Erfurt que, segundo o Vaticano, nada teve a ver com o Papa, antes de uma missa ao ar livre celebrada por ele.
Um homem disparou com uma arma de ar comprimido sem causar feridos, nem perturbar o programa papal. Uma multidão animada recebeu o Sumo Pontífice, que desfilou pelas ruas de Freiburg a bordo do "papamóvel".
Diante do poderoso Comitê Central dos Católicos (ZDK, em alemão), o Papa fez as críticas mais duras à Igreja alemã. "Na Alemanha a Igreja está muito bem organizada. Mas atrás das estruturas, se encontra também a força espiritual que lhe corresponde, a força da fé em um Deus vivo?", questionou.
"Sinceramente, devemos dizer no entanto que há um excesso de estruturas em comparação com o espírito", acrescentou, diante de representantes laicos atuantes em todos os setores da sociedade.
A Igreja católica alemã, muito poderosa graças às suas estruturas e sua rede de ajuda social, se viu enfraquecida pelo escândalo dos padres pedófilos em 2010. A instituição está dividida entre setores conservadores e progressistas e tem dificuldades para atrair novos fiéis em uma sociedade secularizada.
O Santo Padre incentivou 15 mil jovens reunidos em uma vigília de oração pedindo força à Igreja. "O preconceito com a Igreja não vem de seus críticos, mas de cristãos indolentes", que não dão um bom exemplo, disse.
O Papa criticou, ainda, seu país, para ele um modelo de "bem-estar, ordem e eficácia", no entanto marcado pela "pobreza nas relações humanas (...) e no âmbito religioso".
Horas antes, em Erfurt, Bento XVI lembrou a difícil situação da Igreja na antiga Alemanha oriental, de dominação comunista. Segundo o Sumo Pontífice, as ditaduras nazista e comunista tiveram, na parte oriental da Alemanha, o efeito devastador de uma "chuva ácida" para a fé cristã, mas os católicos souberam, "em um clima hostil, educar seus filhos na fé".
Em Freiburg, o dia foi marcado também por um encontro "cordial e afetuoso" com o artífice da Reunificação, ex-chanceler Helmut Kohl, que chegou em cadeira de rodas, acompanhado da esposa, informou o Vaticano.
O Papa se reuniu com líderes das igrejas ortodoxas e saudou seus esforços de reconciliação. Na véspera, ele já tinha prestado homenagem a Martinho Lutero no claustro de Erfurt, onde o reformista se formou como sacerdote no começo do século XVI. A Igreja protestante saudou um começo de "reabilitação".
A imprensa alemã criticou, no entanto, a falta de avanços concretos do Papa no ecumenismo. "O Papa esfria as esperanças de um ecumenismo maior", intitulou o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung na edição deste sábado.