O diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que chefiará a comissão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para apurar denúncias de violações na Síria, afirmou ontem que a primeira missão do grupo será convencer o regime de Bashar Al-Assad que é do seu interesse colaborar com a investigação. O cientista político e ex-ministro-chefe da Secretaria dos Direitos Humanos (governo de Fernando Henrique Cardoso) ainda não tem calendário para sua viagem a Damasco. No entanto, um relatório deverá ser apresentado ao organismo até o fim de novembro. ;Nessas investigações, é sempre melhor ter a própria voz do governo do que simplesmente relatórios de outros atores;, declarou, durante entrevista coletiva, em Brasília. Enquanto isso, crescia ontem a pressão sobre o regime de Al-Assad após a declaração dos ministros árabes das Relações Exteriores para que as autoridades sírias coloquem ;fim imediato ao derramamento de sangue;. Desde o início do levante no país, em março passado, a ONU contabilizou cerca de 2,6 mil mortos na repressão das forças oficiais contra os manifestantes pró-democracia.
Nomeado anteontem para chefiar a missão, Pinheiro deve viajar para Genebra (Suíça), sede do Conselho, onde definirá com dois integrantes do grupo os termos e regulamentos da comissão. A equipe precisará da autorização de Al-Assad para ingressar na Síria. O Brasil tem sido um importante interlocutor, mas Pinheiro negou que haja alguma participação do governo na tentativa de conseguir o consentimento de Damasco para a visita. ;O Estado brasileiro, além de outros, tem desempenhado papel importante no diálogo com a Síria, e a ajuda seria muito bem-vinda. Mas não tenho um plano específico com o governo brasileiro;, afirmou. Ele explicou ao Correio que, antes do convite, manteve contato com membros do Itamaraty, mas não chegou a discutir o tema com os diplomatas após ser nomeado pela ONU.
Mesmo negando o peso da influência brasileira para a escolha da ONU, Pinheiro ponderou que o país tem experimentado um diálogo ;construtivo e positivo; com o governo da Síria e mantido uma posição firme no Conselho de Direitos Humanos. Pinheiro disse não saber se haverá uma nova reunião para discutir sanções a Damasco após a conclusão dos trabalhos. ;O Conselho acredita que o relatório possa contribuir para a superação da atual situação das alegadas violações na Síria;, explicou.
No Cairo (Egito), a pressão sobre o regime de Al-Assad ficou evidente com a declaração dos chanceleres de países-membros da Liga Árabe, na qual ressaltam ;a necessidade de uma mudança imediata que leve ao fim do derramamento de sangue e à proteção do povo sírio;. O chefe da diplomacia do Catar, xeque Hamad ben Jasem Al-Thani, instou as autoridades sírias a deter a ;máquina de matar;.
Líbia
O Conselho Nacional de Transição (CNT) ; órgão político dos rebeldes ; conquistou o reconhecimento do Banco Mundial, que prometeu ajudar o país a se recuperar do conflito. ;Foi pedido para o Banco Mundial liderar os esforços nas áreas dos gastos públicos e da gestão financeira, na reparação de infraestruturas, na criação de empregos para os jovens e na concessão dos serviços públicos;, informou o CNT. Apesar de conseguir novos apoios, o órgão foi cobrado pela Anistia Internacional por cometer crimes de guerra. Segundo o documento, os rebeldes usaram violência contra prisioneiros para se vingar e mataram civis, durante buscas ao ditador.