CAIRO - O primeiro-ministro da Turquia fez um apelo para o reconhecimento de um Estado palestino na ONU e apoiou o que chamou de reivindicações legítimas das revoltas árabes, durante visita ao Cairo nesta terça-feira (13/9).
Recep Tayyip Erdogan, falando ante a Liga Árabe, afirmou que o reconhecimento de um Estado palestino "não é uma opção, mas uma obrigação", referindo-se ao pedido que os palestinos pretendem apresentar às Nações Unidas. "Antes do fim do mês, veremos uma Palestina com um status muito diferente na ONU", afirmou o líder turco, convidado a falar diante da organização pan-árabe.
Forte crítico do Estado hebreu, ex-aliado estratégico da Turquia, ele acusa Israel de "continuar a tomar medidas irresponsáveis que ultrapassam a legitimidade" e destacou que "a política agressiva do governo israelense ameaça o futuro do povo de Israel". Erdogan reafirmou que não tem a intenção de normalizar as relações com Israel enquanto o governo não pedir desculpas pelo ataque contra o navio turco que fazia parte de um comboio de ajuda Humanitária para Gaza em 2010. Na ação, 9 militantes turcos foram mortos.
A Liga Árabe recebeu na segunda-feira o presidente palestino Mahmud Abbas, e também expressou seu apoio ao pedido de reconhecimento que poderá ser apresentado no dia 20 de setembro à Assembléia Geral da ONU.
Os Estados Unidos disseram que vetariam uma iniciativa palestina no Conselho de Segurança, e o presidente Barack Obama afirmou na segunda-feira que a tentativa dos palestinos de obter o reconhecimento de seu Estado na ONU constituirá uma "distração" que não resolverá o conflito com Israel.
A Rússia, por outro lado, apóia a iniciativa palestina, enquanto que a União Europeia continua dividida a respeito. Um grupo de países composto pelo Qatar, Egito e Jordânia ajudará os palestinos a reunir apoio internacional necessário para este projeto, afirmou o negociador palestino Saeb Erakat.
Cairo é o ponto de partida de uma visita aos países da chamada Primavera Árabe. O primeiro-ministro ainda seguirá para a Tunísia e a Líbia a fim de estreitar as relações com os novos líderes dos países que viram seus ex-presidentes serem derrubados pelas revoltas populares dos últimos meses.
"A liberdade, a democracia e os Direitos Humanos devem ser as palavras de ordem para unificar o futuro de nossos povos", disse em seu discurso à Liga Árabe. "As reivindicações legítimas do povo não podem ser reprimidas pela força e pelo sangue", acrescentou. "A história foi escrita na Praça Tahrir e isso significa muito para nós", afirmou mais tarde, durante uma entrevista ao lado do presidente egípcio Essam Sharaf, referindo-se à célebre praça do Cairo onde aconteceram as maiores manifestações contra o regime do antigo presidente Hosni Mubarak.
Erdogan, muito popular entre os árabes por seus ataques verbais contra o Estado judeu, foi acolhido por uma multidão de aproximadamente 3.000 admiradores na noite de segunda em sua chegada no aeroporto do Cairo, segundo testemunhas.
Ele se reuniu nesta terça com o chefe do conselho militar, que dirige o país desde a queda de Hosni Mubarak, o marechal Hussein Tantaoui. Vários acordos econômicos foram assinados. Os dois países afirmaram o desejo de ver as trocas comerciais bilaterais passarem dos 3 bilhões de dólares por ano para 5 bilhões nos próximos anos.
O Egito também atravessa uma fase delicada nas relações com Israel, marcada pelo ataque de manifestantes contra a embaixada israelense no Cairo na sexta-feira passada.