As forças de segurança sírias mataram 16 civis em vários locais do país nesta sexta-feira (2/9), batizada pelos manifestantes de "Antes a morte que a humilhação", informou o Observatório sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Ainda nesta sexta-feira, a União Europeia decretou um embargo às exportações de petróleo procedentes da Síria. O embargo às importações de petróleo sírio pelos europeus deve ter um impacto imediato no governo do país: a UE compra 95% do petróleo exportado pela Síria, o que representa entre um quarto e um terço da receita do país.
Apesar das sanções, as autoridades sírias continuaram com sua política de repressão. Ao menos 16 civis foram mortos a tiros pelas forças de segurança, que tentavam dispersar as grandes manifestações contra o regime que foram realizadas nesta sexta-feira em todo o país, informou o OSDH. "Oito pessoas morreram hoje quando as forças de segurança dispararam para dispersar as manifestações em Erbin, Kfarbatna, Duma e Hamuriye (subúrbios de Damasco), enquanto outras cinco morreram em Homs (centro) e em Talbissé (província de Homs) e outras três, em Deir Ezzor (leste)", segundo o OSDH.
Os manifestantes saíram às ruas nas regiões de Damasco, Hama e Homs (centro), Deraa (sul), na cidade de Amuda (nordeste) e em Deir Ezzor (leste). O regime limita fortemente os deslocamentos da imprensa estrangeira, que não pôde verificar as informações. "Estamos preparados para morrer aos milhões, como mártires", escreveram militantes pró-democracia na página do Facebook "Syrian revolution". Segundo a OSDH, vários tiros foram disparados contra tudo o que se movia ou contra qualquer pessoa que saísse de sua casa no bairro de Bab el-Sbaa.
Os militantes disseram que as manifestações eram "pacíficas" contra um regime que, desde o início da revolta, em 15 de março, se recusa a admitir a importância da contestação e atribui a violência a "grupos terroristas armados".
Protestos diários
As manifestações acontecem na saída das mesquitas após a oração e são reprimidas com frequência. Segundo fontes locais, há manifestações quase que diárias no país, mas às sextas-feiras, dia de repouso islâmico, a mobilização é maior.
A agência oficial Sana informou que três membros das forças de segurança foram assassinados na sexta-feira e que alguns outros ficaram feridos "pelos disparos de grupos terroristas que atacaram em Hamuriyé, Erbin e Talbisé". As forças de segurança, segundo a Sana, mataram "quatro indivíduos armados" nesses "ataques" nas três localidades mencionadas. Na quinta-feira, nove pessoas morreram pela repressão às manifestações contra o regime, dizem os ativistas.
Confrontado por uma revolta que no começo só pedia reformas democráticas, o presidente Bashar al-Assad, que governa o país com mão-de-ferro, tem optado pela via repressiva, apesar de ter prometido reformas. Os opositores, que duvidam da credibilidade do presidente, já começaram a exigir diretamente sua saída do poder.
A ONU revisou recentemente para cima o número de vítimas da repressão na Síria, que ficou em mais de 2.200, e seu secretário-geral, Ban Ki-moon, acusou Bashar al-Assad de não cumprir seus compromissos. Além disso, os ativistas denunciam a prisão de mais de 10.000 pessoas desde o início do movimento. Estados Unidos e UE não conseguem chegar a um consenso na ONU para sancionar o regime de Damasco, fundamentalmente pela oposição da Rússia, tradicional aliado da Síria.
O ministro de Relações Exteriores francês, Alain Juppé, afirmou na sexta-feira que seu país "expandirá" os contatos com a oposição síria para que a repressão no país tenha fim, um dia depois de sua homóloga americana, Hillary Clinton, pedir à comunidade internacional que aumente a pressão sobre o presidente sírio, apontando o bloqueio às exportações de petróleo e gás como motivo para forçar sua renúncia.