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Adolescente de 14 anos morre em mais uma noite de violência no Chile

Santiago - Um adolescente chileno foi assassinado com um tiro na madrugada de quinta para sexta-feira (26/8) durante a terceira noite de violência entre jovens e a polícia, depois de 48 horas de greve geral que resultou na prisão de 1.400 pessoas. O jovem de 14 anos, identificado como Manuel Gutierrez, levou um tiro no peito no bairro de Macul, em Santiago. Essa região, assim como centenas de outras, teve focos de violência durante toda a noite até o amanhecer desta sexta-feira na capital chilena.

"Prendemos 1.394 pessoas, a maioria por roubo e ataques graves. Mais de 150 policiais ficaram feridos em todo o país, assim como 35 civis e um jovem morto", anunciou o vice-ministro do Interior, Rodrigo Ubilla, ao apresentar o saldo das últimas 48 horas. Entre 100 e 150 pessoas detidas serão levados à Justiça, segundo a imprensa do Chile.

Em Macul, a família do jovem Manuel Gutierrez acusou a polícia de ter disparado o tiro mortal. Seu irmão Gerson, que estava ao seu lado às 3h00 da manhã, assegurou ao site do jornal El Mercurio que "uma viatura da polícia apareceu, três disparos foram feitos, entre eles um que atingiu o peito do meu irmão, e depois disso desapareceu". Os dois irmãos saíram para ver o que acontecia, explicou.

A polícia disse não estar envolvida nesse assassinato. "Eu descarto a possibilidade dos policiais terem usado armas de fogo contra um adolescente (...) nas circunstâncias descritas", afirmou à imprensa o general Sergio Gajardo, chefe-adjunto da polícia da cidade de Santiago. O oficial afirmou que um inquérito interno foi instaurado para averiguar os fatos, mas que as armas dos policiais "estão à disposição da Justiça se ela desejar fazer análises balísticas". A polícia indicou que na noite de quinta-feira seis policiais foram feridos por armas de fogo. "O governo espera que as circunstâncias da morte deste jovem sejam esclarecidas rapidamente", declarou Ubilla.

As violências noturnas, pela terceira noite seguida, tiveram barricadas incendiadas, roubo de lojas, veículos queimados e lutas com pedras e pedaços de madeira, principalmente na periferia da capital de 6 milhões de habitantes. Um contraste perto da mobilização pacífica de quinta-feira, quando 50.000 pessoas em Santiago e 170.000 por todo o país marcharam a pedido da Central Única de Trabalhadores (CUT), maior central sindical chilena, para pedir igualdade na divisão dos "frutos do crescimento".

O porta-voz do governo, Andres Chadwick, que felicitou na quinta-feira a "manifestação ordenada" e "sem problemas maiores", lamentou nesta sexta-feira que o que será lembrado da greve de 48 horas será a "extrema violência".

Para os manifestantes, a morte do adolescente se junta aos problemas judiciais e afirma que a contestação social contagia: três meses de manifestações estudantis por uma reforma na educação pública contagiou o mundo sindical, que promete junto dos estudantes novas manifestações.