TRÍPOLI - O líder líbio Muamar Kadhafi, cujo paradeiro é desconhecido embora sua cabeça tenha sido posta a prêmio, pediu nesta quinta-feira (25/8) a derrota do "inimigo" enquanto os rebeldes tentavam neutralizar os últimos focos de resistência em Trípoli e se aproximar de Sirte, cidade natal e reduto do "guia".
O número dois do regime, Abdesalem Jalud, afirmou em Roma, onde está desde sábado depois de fugir da capital líbia, que o "guia" se encontraria no sul de Trípoli ou já estaria no deserto. "Há apenas quatro pessoas ao seu redor e apenas duas possibilidades: ou ele se esconde na parte meridional de Trípoli ou saiu há algum tempo" e se encontra na fronteira com a Argélia ou em Sirte, sua cidade natal, disse Jalud, em entrevista coletiva na sede da associação da imprensa estrangeira.
[SAIBAMAIS]Na terceira mensagem divulgada desde que os rebeldes iniciaram a invasão a Trípoli e 48 horas depois de eles terem se apoderado de seu quartel-general na capital, Kadhafi conclamou a população a resistir e derrotar os inimigos. "É preciso resistir a estes ratos inimigos, que serão derrotados pela luta armada", declarou o coronel Kadhafi em uma gravação divulgada pelo canal via satélite Arrai, sediado na Síria. "Saiam de vossas casas, libertem Trípoli", reivindicou.
Em seis meses de insurreição contra o regime de Kadhafi, morreram "mais de 20.000 pessoas" na Líbia, afirmou Mustafah Abdeljalil, chefe do Conselho Nacional de Transição (CNT, órgão político rebelde), que prometeu recompensar, durante a reconstrução do país, as nações estrangeiras que ajudaram a insurgência.
Oito altos representantes do CNT chegaram a Trípoli para preparar a era pós-Kadhafi e se reuniram com comandos militares dos rebeldes, informou um porta-voz insurgente. Vários combatentes rebeldes afirmaram em Trípoli que as forças pró-Kadhafi estavam concentradas nos bairros de Abu Salim, perto do antigo quartel-general de Kadhafi, e de Hatba Charkia.
Segundo jornalistas da AFP, após uma manhã de relativa calma no centro da capital, à tarde houve um intenso tiroteio que durou 45 minutos no entorno do hotel Corinthia, situado na parte antiga da cidade. Depois de tomarem o controle de Bab al-Aziziya, complexo residencial de Kadhafi, na terça-feira, os rebeldes continuavam tentando localizar o ditador e seus filhos.
O complexo estava sendo saqueado. Seu interior esconde um verdadeiro labirinto de túneis, salas e instalações espetaculares. Para tentar facilitar sua captura, os rebeldes anunciaram uma recompensa de 1,7 milhão de dólares (2 milhões de dinares líbios) a quem conseguir encontrá-lo vivo ou morto.
Segundo o jornal britânico Daily Telegraph, membros das forças especiais britânicas estão mobilizados na Líbia a fim de encontrar o paradeiro de Kadafi, embora esta informação ainda não tenha sido confirmada oficialmente.
No Golfo de Sirte, um jornalista da AFP constatou a presença de agentes britânicos e franceses. A Otan também participa das buscas com "inteligência e equipes de reconhecimento", disse esta quinta-feira o ministro britânico da Defesa, Liam Fox. No entanto, uma porta-voz da Aliança Atlântica disse à AFP que "a Otan não aponta nenhuma pessoa especificamente" e que "não há coordenação militar com os rebeldes".
Na frente leste, os rebeldes que avançavam na direção do reduto kadhafista de Sirte admitiram enfrentar uma resistência inesperada em Ben Jawad, 140 km ao leste de seu objetivo, de onde as forças leais a Kadhafi disparam foguetes.
No oeste, as forças leais a Kadhafi também cercavam Zuara e bombardeavam a cidade, onde os rebeldes, que controlam o centro, pediram ajuda aos combatentes das montanhas de Yebel Nefusa.
Desde sábado, mais de 10.000 pessoas atravessaram o posto fronteiriço de Dehiba, entre a Tunísia e a Líbia, a sudoeste de Trípoli. Parte delas voltava para uma "Líbia livre", após ter se refugiado durante meses na Tunísia; outras fugiam dos combates da capital. Enquanto isso, a comunidade internacional multiplicava as iniciativas para a era pós-Kadhafi.
O vice-presidente sul-africano Kgalema Motlanthe considerou que o Tribunal Penal Internacional (TPI) deveria analisar os bombardeios da Otan na Líbia.
O Conselho de Segurança da ONU aceitou nesta quinta-feira o desbloqueio 1,5 bilhão de dólares em ativos congelados da Líbia para financiar uma ajuda de emergência para a reconstrução do país, informaram diplomatas.
A decisão foi tomada depois de um acordo entre Estados Unidos e África do Sul, que se opôs nas duas últimas semanas a essa medida, acrescentaram as fontes. Mais cedo, a insurgência havia anunciado que responsáveis do Grupo de Contato sobre a Líbia haviam decidido acelerar o processo para o desbloqueio dos bens do país no exterior, o que permitirá aos rebeldes dispor de 2,5 bilhões de dólares.
O CNT conseguiu que a Liga Árabe transmitisse o posto que a Líbia tinha até agora no âmbito da instituição panárabe. Por fim, um jornalista da AFP constatou que a embaixada venezuelana em Trípoli não foi nem atacada, nem saqueada, contrariando declarações feitas na véspera pelo presidente Hugo Chávez, aliado de Kadhafi.