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Brasil precisa se posicionar sobre situação na Líbia, diz ex-embaixador

Rio de Janeiro ; A diplomacia brasileira não pode emitir sinais dúbios sobre a situação na Líbia e deve se posicionar com mais firmeza quanto aos acontecimentos no país africano, disse hoje (23) o ex-embaixador José Botafogo Gonçalves, vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Para ele, o avanço dos rebeldes e o enfraquecimento do líder líbio Muammar Khadafi representam mudança iminente no poder local e mexem com interesses políticos e econômicos do Brasil na região.

;Já se foi o tempo em que o Brasil podia se dar ao luxo de ficar como espectador dos eventos e só tomar partido quando eles já tivessem se completado. Isso é da época em que o país não tinha a importância que tem hoje no plano internacional. Atualmente, o Brasil é uma voz que é ouvida e solicitada nos assuntos de governança global. A diplomacia brasileira não pode se furtar a tomar posições, aguardando os acontecimentos, em cima do muro. O desafio é fazer opções;, disse o diplomata.

[SAIBAMAIS]Botafogo acredita que ainda haverá um período de transição na Líbia e nos demais países árabes, gerando incertezas políticas sobre quais forças estarão no comando efetivo do país, correndo-se risco, inclusive, de um quadro semelhante ao do Iraque pós-guerra, onde grupos ainda hoje travam luta armada pelo poder.

;Isso é possível porque esses movimentos surgiram nas ruas, espontâneos, provocados em parte pelo envelhecimento dos regimes autocráticos e corruptos. Também pelo fenômeno novo da comunicação e da internet. Foram movimentos caóticos e, como não havia uma vida política organizada de oposição, a revolta sempre se faz um pouco anárquica. No caso da Tunísia, do Egito, da Líbia, do Marrocos e Iraque ainda não há, com clareza, a percepção de quem irá deter o poder. Há muito mais interrogações do que respostas;, analisou.

O professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da PUC Rio, Marcio Scalercio, tem opinião semelhante à de Botafogo e também prevê que ocorrerá um razoável período de ajuste de forças na Líbia e nos países árabes.

;É cedo para fazer qualquer prognóstico mais firme dessas mudanças, porque a transição para um novo regime só vai começar quando a guerra civil tiver definitivamente terminada. No mundo árabe, uma vitória dos rebeldes líbios instila força para a continuidade de manifestações em outros países;, avaliou.

Para Scalercio, com uma vitória rebelde, empresas brasileiras que atuam no país africano poderão ter dificuldades para receber por serviços prestados. Além disso, poderá haver favorecimento de empresas da França e da Inglaterra, que, desde o início, apoiaram a revolta. A fim de evitar maiores prejuízos econômicos, Scalercio sugere que a diplomacia brasileira reforce rapidamente os contatos com o grupo que tomar o poder. ;Logo que o novo governo líbio for empossado, o governo brasileiro deve reconhecê-lo o mais depressa possível;.