Londres - As escutas telefônicas foram "amplamente discutidas" em reuniões do hoje extinto tabloide britânico News of the World e seu ex-chefe de redação Andy Coulson tentou ocultá-las, segundo novas revelações divulgadas nesta terça-feira que aumentam a pressão sobre os Murdoch. Esta nova reviravolta inesperada no escândalo do verão no Reino Unido pode obrigar James Murdoch, filho do magnata Rupert Murdoch e presidente da filial britânica do grupo familiar News Corp., a ter que comparecer pela segunda vez ante uma comissão parlamentar.
Em uma carta publicada nesta terça-feira, o ex-jornalista do jornal Clive Goodman, um especialista em realeza condenado a quatro meses de prisão no final de janeiro de 2007 ligado aos grampos telefônicos de membros da família real, afirma que Coulson -que foi até janeiro o chefe de comunicação do primeiro-ministro David Cameron-, prometeu a ele um novo emprego no News of the World se não envolvesse o diário em seu julgamento.
O documento, assinado no dia 2 de março de 2007 e que corresponde a uma notificação de demissão da News International, foi divulgado pela Comissão de Cultura, Meios de Comunicação e Esportes da Câmara dos Comuns que investiga o escândalo das escutas. Goodman escreveu em sua carta endereçada ao diretor de Recursos Humanos da News International, Daniel Cloke, que a questão das escutas "foi amplamente discutida na reunião de redação diária até que o chefe de redação proibiu qualquer referência explícita" aos grampos. O ex-jornalista acrescentou depois que Coulson, chefe de redação do jornal de 2003 até a sua demissão em 2007, tentou acobertar essa prática.
O ex-diretor jurídico da News International "Tom Crone e o chefe de redação prometeram em muitas ocasiões que eu poderia voltar a ter um emprego no semanário se não envolvesse o periódico ou outro membro de sua equipe em minhas alegações na justiça", afirmou o ex-jornalista em sua carta. "Não fiz isso, e espero que o jornal honre sua promessa", concluiu Goodman, que até agora é, ao lado do detetive particular Glenn Mulcaire, o único condenado à prisão ligado a este escândalo que eclodiu em 2006 e se agravou depois da abertura de uma investigação no início deste ano.
Um membro da Comissão de Cultura e Meios de Comunicação, o deputado trabalhista Tom Watson, classificou as novas revelações de "devastadoras". Watson havia indicado anteriormente que James Murdoch, de 38 anos, será "provavelmente" convocado a depor pela segunda vez no painel, para que seus membros possam esclarecer alguns "testemunhos contraditórios".
Em seu primeiro depoimento em meados de julho, James Murdoch disse desconhecer um e-mail que provava que as escutas no News of the World não eram obra de um único repórter, e sim uma prática comum na redação. Mas outras duas testemunhas, Crone e o ex-jornalista do News of the World Colin Myler, afirmaram o contrário. A comissão anunciou nesta terça-feira que ambos foram convocados a prestar depoimento em 6 de setembro, junto com Cloke e John Chapman, outro diretor jurídico. "Dependendo de seus testemunhos nos interrogatórios, o comitê também pode ter mais perguntas para James Murdoch", declarou a Comissão em um comunicado.
Coulson, cujo papel neste escândalo afetou o primeiro-ministro David Cameron, será contatado paralelamente por escrito para que seja verificado se a algo a acrescentar em seu testemhnho anterior, assim como a ex-diretora da News International Rebekah Brooks, que deixou o cargo em julho.
O caso das escutas telefônicas ilegais por parte do News of the World, que inicialmente afetava essencialmente figuras políticas e famosos, agravou-se nos últimos meses com a revelação de que até 4.000 pessoas, incluindo vítimas de crimes e familiares de vítimas de atentados terroristas e de soldados mortos no Iraque e no Afeganistão, podem ter sido alvo de grampos.