BUENOS AIRES - A presidente argentina Cristina Kirchner se encaminha para sua reeleição nas eleições presidenciais de outubro, depois de esmagar a oposição nas primárias de domingo com uma avalanche de mais de 10 milhões de votos, ou 50,07% do total.
Em segundo lugar, longe do desempenho de Cristina, ficaram o candidato do radicalismo social-democrata, o deputado Ricardo Alfonsín (12,17%), com uma diferença de apenas 3 mil votos para o terceiro, o ex-presidente peronista Eduardo Duhalde (12,16%). "Foram confirmadas as pesquisas de opinião pública que davam quase 50% de apoio à presidente. E não surge uma liderança na oposição fragmentada", comentou à AFP o analista Julio Aurelio, da consultoria de mesmo nome.
Kirchner, 58 anos, foi a mais votada por forte maioria em 23 dos 24 distritos do território e inclusive em três dos mais povoados, a capital e as províncias de Santa Fé e Córdoba, ricos pólos de serviços e do setor agroindustrial que tinham sido hostis à mandatária em outras votações.
A presidente teve supremacia também em cidades da rica Pampa Húmeda, apesar de se tratarem de redutos antigoverno e focos de uma revolta fiscal em 2008. A produção agrícola produz mais de um terço das milionárias exportações de cereais, grãos e azeites.
Este ano, os produtores agrários estão favorecidos como poucas vezes na história por uma combinação de preços internacionais elevados e forte demanda. "Com este empate técnico entre o segundo e o terceiro lugar, será difícil que um deles (Duhalde ou Alfonsín) convença o outro a abrir mão de seus votos para as presidenciais de 23 de outubro e polarize assim a oposição a Kirchner. O cenário político é de reeleição", completou Aurelio.
Outro dado relevante das primeiras primárias da história argentina foi uma participação de 77,8%, maior do que a presidencial de 2007, apesar de as candidaturas presidenciais terem sido escolhidas a dedo pelos partidos, que evitaram as disputas internas como ocorre em outros países.
A única motivação legal era a de alcançar o mínimo de 1,5% dos votos para poder competir nas presidenciais. A liderança da presidente ganhou força sozinha, após a morte no ano passado de seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner.
Lançou medidas de proteção à indústria, sustentou um tipo de câmbio favorável às exportações e aumentou os subsídios ao transporte e à seguridade social. Por outro lado, as forças opositoras que tinham derrotado Kirchner nas legislativas de metade de mandato em 2009 se dispersaram. "O voto opositor aparece muito fragmentado. A oposição não apresenta um projeto confiável e agora tem o panorama muito complicado para outubro", comentou Mariel Fornoni, analista da consultoria Management & Fit (M).
Todos os candidatos opositores modificaram suas políticas de alianças e as fórmulas, apesar de a maior ruptura ter sido a de Alfonsín, filho do ex-presidente da transição democrática Raúl Alfonsín (1983-1989), com o governador socialista de Santa Fé, Hermes Binner (10,26%).
Outro grupo dividiu o peronismo opositor entre Duhalde e Alberto Rodríguez Saá (8,17%), o governador de San Luis (centro), único distrito onde Cristina não foi a mais votada. "Temos que levar em conta que a lei impede novas alianças ou chapas presidenciais. Será o eleitor que escolherá qual é a opção opositora, e não os líderes, e que pode mudar essa situação", indicou o cientista político e consultor Rosendo Fraga.
Cristina Kirchner capitalizou nas urnas uma economia que vai de vento em popa, com vigoroso crescimento anual de 7%-8%, em meio às turbulências que atingem os países desenvolvidos. "O bolso influenciou o voto de muita gente. Temos uma pesquisa na qual 63% atribuem seu apoio ao governismo à situação econômica", afirmou o analista Federico Aurelio, da companhia Aresco.
O consultor completou que "será muito difícil para a oposição descontar essa vantagem obtida por Cristina Kirchner nas primárias. É muito ampla. Não vai permitir uma polarização. É um cenário muito favorável para o governo".