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Projeto de Chávez de governar até 2031 pode não se tornar realidade

Manuel Martínez
postado em 15/08/2011 08:00

O objetivo de governar a Venezuela até 2031, projeto do atual presidente Hugo Chávez apoiado por muitos venezuelanos, corre o risco de sucumbir. Além do câncer diagnosticado em junho ; problema sobre o qual pouco se sabe ;, sua segunda reeleição em 2012 começa a enfrentar ameaças com a reorganização e até uma possível unificação da oposição.

Analistas políticos consultados pelo Correio avaliam que essa tríade influenciaria as escolhas dos votantes nas eleições presidenciais, previstas para dezembro do ano que vem. Assim, chegaria ao fim a gestão iniciada em 1999. Segundo eles, pela primeira vez desde que Chávez ascendeu ao poder, há chances até de a oposição conquistar uma parcela significativa de votantes. Mas os especialistas ponderaram que o presidente conhece bem esse tabuleiro político e já iniciou o contra-ataque.

;Chávez sabe transformar suas derrotas em vitórias;, afirma o professor de política internacional da Universidade Central da Venezuela (UCV) Adolfo Salgueiro. De acordo com ele, apesar de ter uma enfermidade grave, o mandatário manteve as aparências. Isso contribuiu para minimizar temores quanto ao futuro.

Em abril, quando aparentemente até Chávez ignorava seu mal, pesquisas de intenção de voto apontavam que ele teria uma vantagem de 15 a 20 pontos sobre qualquer oponente. Sem se arriscar a dizer qual seria o percentual atual de apoiadores do candidato do Partido Socialista Unido, Salgueiro diz que, desde a confirmação do câncer, esse grupo poderia ter aumentado entre cinco e seis pontos. ;Atualmente, o quadro (eleitoral) está mais ou menos empatado, com ligeira vantagem para Chávez;, avalia o docente da UCV, que aponta a enfermidade do presidente como possível fiel da balança.

Indecisos
Para o professor da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab) Benigno Alarcón-Deza, o fator saúde será importante, mas ele chama a atenção para o papel que terão os ;nem-nem;. Esses representam entre 30% e 35% dos eleitores que ;nem; têm compromisso permanente com o presidente, ;nem; com a oposição. ;É um grupo que, de acordo com sondagens recentes, começou a apresentar desencanto crescente com Chávez;, diz o representante da Ucab.

Alarcón-Deza sublinha que a desmotivação se deve ao anúncio da doença, aos problemas econômicos no país e ao modo como a oposição passou a se apresentar para a população. ;Pela primeira vez, existe uma oposição unificável;, disse. Contudo, o catedrático da Ucab explica que não necessariamente todos os partidos de oposição se aliaram em torno de um nome. De todas as formas, ressurgiriam processos associativos desativados desde que Chávez se elegeu em 1998.

Os dois professores concordam que Henrique Capriles Radonski é o provável candidato que mais ameaçaria a Chávez, o que pesquisas reiteram. O representante do partido Primeiro Justiça ainda poderia obter apoio de outras forças contrárias ao atual presidente nas eleições primárias que a oposição realizará em fevereiro para escolher um único candidato.

Entretanto, Alarcón-Deza alerta sobre uma possível estratégia do governo: usar uma prerrogativa constitucional que permitiria antecipar a escolha presidencial para julho. Isso limitaria a campanha do candidato majoritário opositor a apenas quatro meses, o que aumentaria significativamente as chances de vitória de Chávez . E, se a morte o atingisse após reeleito, a manutenção do poder com os chavistas estaria garantida, pois cairia nas mãos do vice-presidente, cargo que é indicação direta do governante.

Argentina
A presidente Cristina Kirchner foi a mais votada nas eleições primárias da Argentina, de acordo com pesquisas de boca de urna. Quase 29 milhões de argentinos votaram, em um teste de apoio político frente às presidenciais de outubro. Além de Kirchner, participaram das primárias Eduardo Duhalde e Ricardo Alfonsín, segundo e terceiro mais votados, respectivamente.

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