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População da Tunísia vive momento de otimismo sem temer a repressão

Nova York ; No dia em que conversou com a reportagem do Correio no lobby de um hotel em Nova York, o tunisiano Jalel Tebib, um dos diretores da Agência de Promoção do Investimento Externo da Tunísia, não escondia a felicidade de saber que na capital de seu país, Túnis, ocorria naquele momento uma marcha pela liberdade de expressão. ;Até o ano passado, isso não era possível;, empolgou-se. Quase oito meses após o ato que desencadeou os movimentos populares revolucionários nos países árabes, o lugar onde tudo começou vive com otimismo seu processo de transformação, que permite à população sair às ruas, sem temer a repressão do governo. Em outubro, os tunisianos deverão escolher a assembleia responsável pela elaboração da nova Constituição, fundamental para pavimentar o caminho para as primeiras eleições multipartidárias que devem ocorrer até o fim de 2012.

O sufrágio pós-revolução será como um divisor de águas para o avanço do desenvolvimento econômico da nação árabe, que segue na marcha lenta desde a queda do ditador Zine El Abidine Ben Ali, em janeiro deste ano, e sofre com a estagnação de alguns setores. Assim como Tebib, pesquisadores sobre a Tunísia são unânimes ao afirmar que o desenvolvimento e a criação de empregos ; fundamentais para assegurar as mudanças democráticas já conquistadas ; devem ocorrer o mais rápido possível.

Nos primeiros seis meses do ano, a Tunísia registrou uma redução de 17 pontos percentuais nos investimentos estrangeiros. Ao contrário de outros Estados alcançados pelas revoltas populares, o país não se sustenta na exploração do petróleo. A exportação de manufaturados, o turismo e os investimentos estrangeiros são fontes primárias das receitas deste país de 10 milhões de habitantes, considerado um dos mais liberais do mundo árabe.

Mesmo assim, para Tebib, a situação é de otimismo. Segundo ele, ;apesar do momento confuso, 83% dos investidores ainda acreditam no país;. ;Muitos esperam pelo novo governo para estabelecer confiança e fazer novos investimentos;, afirmou o economista. Tebib pondera, porém, que as exportações de seu país registraram um leve crescimento no mesmo período, cerca de 5%, apesar do momento de instabilidade.

Promessas
Em maio, líderes do G8 (grupo das sete nações mais desenvolvidas e a Rússia) se comprometeram com o envio de US$ 20 bilhões à Tunísia e ao Egito para ajudar a revolução nesses países. Em seu discurso para o Oriente Médio, no mesmo mês, o presidente dos EUA, Barack Obama, também anunciou uma assistência financeira a esses países. Até agora, porém, as promessas ainda não se concretizaram. Jane Kinninmont ; analista do Programa de Oriente Médio e norte da África do instituto britânico Chathan House (Londres) ; explicou, em entrevista ao Correio, que é comum que transferências financeiras demorem a chegar ao destino. Mas uma vez que se efetivem, o mais importante, na sua opinião, é que criem emprego na Tunísia. ;Um dos problemas mais sérios do país é o desemprego, especialmente entre os jovens que se formaram em universidades e que não conseguem se colocar no mercado;, afirma Jane, apontando este como o principal desafio para o próximo governo.

O especialista em Tunísia do Oxford Institute for Energy Studies (Reino Unido) Hakim Darbouche defendeu, em entrevista ao Correio, que o foco de assistência externa ao país deve ser em relação às reformas de longo prazo necessárias para estimular as iniciativas do setor privado e o empreendedorismo. ;A região Mena (Oriente Médio e norte da África, por sua sigla em inglês) precisa de uma revolução econômica ao lado da revolução sociopolítica, e esta sublevação passa pela iniciativa do setor privado;, opina Darbouche. Segundo ele, sem essa revolução, ;a região continuará a sofrer as frustrações socioeconômicas que têm sido uma praga para a jovem população da região até agora;.

Sem perder o otimismo, Tebib diz confiar no poder de seu país de se superar, apesar das dificuldades. De qualquer forma, o que está em jogo não é apenas o sucesso da Tunísia, mas o de todas as nações que seguiram seu exemplo. Jane acrescenta que o país ficou meio esquecido com tantos acontecimentos ao seu redor, mas que ele continua uma inspiração para os outros. ;Acho que há motivos para ser otimista. Há, sem dúvida, uma grande identificação das outras nações com a Tunísia e seu sucesso inspirará a todos.;


*A repórter viajou a convite do Departamento de Estado dos Estados Unidos