Enfrentando o recrudescimento das pressões diplomáticas do Ocidente e das monarquias do Golfo Pérsico e pressionado pela morte de 22 manifestantes durante a primeira sexta-feira do mês sagrado Ramadã, o governo da Síria prometeu ontem realizar eleições legislativas ;livres e transparentes; até o fim do ano. Enquanto o anúncio era feito, ativistas denunciavam que tanques e blindados do Exército sitiaram as cidades de Deir Ezzor e Homs, além de continuarem a agir em Hama.
O anúncio de novas eleições foi divulgado pela agência oficial Sana, citando o ministro das Relações Exteriores, Walid al Muallem. ;A Síria realizará eleições livres e transparentes para a formação de um Parlamento que represente o povo;, afirmou o chanceler. Na quinta-feira, o presidente, Bashar al-Assad, já havia promulgado decretos que abrem o país ao multipartidarismo, embora a oposição tenha colocado em dúvida a efetividade dessas reformas.
As declarações do ministro foram feitas em um momento em que a pressão diplomática aumenta sobre Damasco. Na sexta-feira, a chanceler (chefe de governo) alemã, Angela Merkel, os presidentes norte-americano, Barack Obama, e francês, Nicolas Sarkozy, afirmaram que analisam ;medidas adicionais para pressionar o regime de Bashar al-Assad;. Os líderes saudaram a declaração do Conselho de Segurança das Nações Unidas, anunciada na quarta-feira, que condena ;as violações dos direitos humanos e o uso da força pelas autoridades sírias contra os civis;.
Do lado árabe, a pressão também se mostra crescente, com o comunicado das monarquias do Golfo condenando o ;banho de sangue; na Síria e pedindo o início de ;sérias reformas;. ;O Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) exige que Damasco ponha fim de imediato à violência e ao banho de sangue;, dizia o documento. O conselho, formado pela Arábia Saudita, Kuwait, Barein, Emirados Árabes Unidos, Omã e Qatar, pediu ;razão e a tomada de sérias e necessárias reformas que protejam os direitos e a dignidade do povo sírio;.
A violenta estratégia para tentar conter os manifestantes que protestam contra o governo desde março, no entanto, não para. Após uma semana de sangrenta repressão na cidade de Hama, onde ativistas indicam a morte de mais de 300 pessoas, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) denunciou ontem que tanques e blindados foram mobilizados nos arredores de Deir Ezzor (leste) e Homs (centro).
Em entrevista à agência de notícias France-Presse, o presidente do OSDH, Rami Abdel Rahmane, relatou que pelo menos 250 veículos militares foram deslocados em quatro bairros de Deir Ezzor e um número não preciso em setores de Homs. O OSDH informou não ter contato com Hama, cidade onde as autoridades cortaram todos os meios de comunicação para combater os ;grupos terroristas armados;, aos quais atribuem a responsabilidade dos distúrbios.