Em meio à crise política e à fome extrema que vêm castigando o nordeste da África, o governo brasileiro anunciou ontem que enviará 53 mil toneladas de alimentos à Somália e aos campos de refugiados da vizinha Etiópia.
O comunicado de ajuda veio no mesmo dia em que um confronto entre militares da força da Missão da União Africana na Somália (Amison) e rebeldes de um grupo extremista islâmico deixou seis mortos na capital, Mogadíscio.
As doações, anunciadas pelo Ministério das Relações Exteriores, foram baseadas na Lei n; 12.429, que autoriza o poder Executivo a doar estoques públicos de alimentos para assistência humanitária internacional. As entregas serão realizadas em parceria com o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA).
Conhecida como o Chifre da África, a região vem sofrendo com a seca há mais de dois meses. Na última semana, a ONU decretou estado de crise de fome em duas regiões da Somália ; a situação pode se estender a oito províncias.
O cenário piora com a crise política que afeta o país desde 1991, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado por militares, e revoltosos decidiram lutar pelo poder. Ontem, seis pessoas morreram e 20 ficaram feridas durante um embate entre a força da Amison e extremistas do grupo Al-Shabab, ocorrido em um mercado. De acordo com relatos, os rebeldes mataram homens que tentaram fugir da fome com as suas famílias, afirmando que era melhor morrer do que aceitar a ajuda do Ocidente. O porta-voz da força da União Africana, coronel Paddy Ankunda, por sua vez, afirmou que os militares realizaram uma ;pequena operação de ofensiva tática; em Mogadíscio.
Fuga em massa
O ataque ocorreu um dia após o início da ponte aérea do PMA, que visa ajudar as vítimas da seca na Somália.
Mesmo com a resistência dos extremistas do Al-Shabab à presença de entidades humanitárias no país, cerca de 20 organizações não governamentais internacionais continuam trabalhando com certa eficácia no país. Estima-se que, após anos de conflito na região sul, a situação de emergência e a dificuldade imposta pelos rebeldes já resultaram na saída de 135 mil somalis para países vizinhos. Segundo as Nações Unidas, a seca na África Leste ameaça hoje 12 milhões de pessoas.