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Rupert Murdoch, dono do tabloide News of the World, admite 'faltas graves'

Em uma virada no caso de escândalo dos telefones no Reino Unido, os primeiros dominós do grupo News International começam a cair. Depois de 11 dias de discussões, negações e pressão política, o magnata Rupert Murdoch pediu desculpas pela invasão de privacidade com um anúncio de uma página que deve ser publicado hoje em todos os jornais britânicos. Ontem, ele se encontrou com a família de Milly Dowler, a adolescente desaparecida e assassinada cujo celular foi invadido pelo tabloide News of the World, uma das publicações do conglomerado, para tentar remediar o erro cometido por sua equipe. A poderosa executiva chefe do grupo editorial, Rebekah Brooks, um dos pivôs do caso, pediu demissão, assim como Les Hilton, chefe da agência Dow Jones, que ocupou o mesmo cargo até 2007.

Murdoch mudou sua postura em relação à crise. No pedido de desculpas, oferecido ao público quase duas semanas após o início do escândalo que chocou os britânicos, ele afirma que o assunto será resolvido e os danos, compensados. O magnata australiano também participou do encontro com os pais da menina de 13 anos, que teve o celular grampeado pelo jornal quando ainda estava desaparecida, e pediu perdão ;de uma forma muito humilde;, segundo a família Dowler.

Murdoch também perdeu dois grandes aliados de batalha na crise. Rebekah Brooks, seu braço direito no comando do grupo editoria, era considerada a rainha dos tabloides, pela voracidade e pelos meios duvidosos de que lançava mão em busca de furos jornalísticos. A executiva afirmou em um comunicado que não queria ser ;o grande foco no debate; sobre as práticas de invasão de privacidade dos três jornais que comandava. Mas ela não deve se desvencilhar do caso. ;Tenho um profundo sentido da responsabilidade para com as pessoas a quem magoamos, e quero reiterar o quanto sinto pelo que agora sabemos que aconteceu;, escreveu a executiva.

A saída dela colocou em evidência outra figura do caso, que por enquanto não tinha sido apontada: Les Hilton. Porém, o chefe da Dow Jones e ex-chefe da News International tomou a decisão de deixar a empresa antes mesmo que as atenções se voltassem para ele. ;Eu tenho visto centenas de novos relatos, confirmados e supostos, sobre más condutas durante o tempo em que fui chefe e responsável pela empresa. Que eu tenha sido ignorante sobre o que aconteceu é irrelevante, nessas circunstâncias, e sinto que é apropriada a minha demissão;, afirmou Hilton em um comunicado. Ele foi acusado de dar informações falsas sobre o caso no Parlamento britânico, em 2007 e 2009, quando disse que não havia evidência dos grampos feitos pelos jornais.

O pedido de demissão da dupla marca um novo capítulo na crise. Brooks era editora-chefe do News of the World e Hilton responsável pelo grupo, em 2006, quando vieram à tona os primeiros casos de invasão de privacidade. Ao longo da última década, eles podem ter atingido 4 mil pessoas, entre políticos, celebridades e cidadãos comuns. Com o fechamento do tabloide, no último domingo, e as revelações que começaram a surgir na investigação policial, a situação da jornalista, em especial, ficou insustentável. Apesar de se afastar de suas funções, na próxima terça-feira ela deve comparecer a uma audiência no Parlamento ao lado dos ex-patrões, Rupert Murdoch e o filho James.

Ligações políticas
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, declarou ontem que Brooks ;fez a coisa certa;. Cameron também recebeu críticas pelas ligações que mantém com o grupo editorial, especialmente com a jornalista, que participou de diversas reuniões e eventos do Partido Conservador. ;O público espera que os políticos sejam amigáveis com a mídia, mas acredito que a extensão desse relacionamento chocou as pessoas. A imagem do premiê não ficará marcada por isso, mas sua capacidade de julgamento pode ser colocada em questão. A investigação parlamentar trouxe pressão política ao caso e algumas mudanças nas leis jornalísticas podem ocorrer;, apontou Victoria Honeyman, professora de política britânica na Universidade de Leeds.

Façam o que eu digo
Na nota com a qual se desculpa pela violação de privacidade, publicada com reprodução da assinatura de próprio punho, Rupert Murdoch admite que seu grupo de mídia traiu os valores que defendia. ;O negócio do News of the World era fiscalizar a conduta dos outros, mas ele falhou quando se tratou dele mesmo;, começa o texto. Por duas vezes, o magnata australiano diz que ;sente muito; pelas ;faltas graves; cometidas em nome da primazia das notícias. ;Nosso negócio estava baseado na ideia de que uma imprensa livre e aberta pode ser uma força positiva para a sociedade. Precisamos estar à altura dessa ideia;, prossegue o comunicado. Murdoch promete para ;os próximos dias; o anúncio de ;novos passos concretos; com o propósito de ;resolver esse assunto e sanar os danos causados;.