Londres - O império midiático de Rupert Murdoch, no centro do escândalo das escutas telefônicas ilegais que sacode o Reino Unido, renunciou nesta quarta-feira (13/7) ao seu multimilionário projeto de compra da totalidade da plataforma televisiva BSkyB.
O inesperado anúncio ocorreu após o primeiro-ministro, David Cameron, anunciar no Parlamento seu apoio a uma moção impulsionada pela oposição trabalhista e apoiada também pelos liberais-democratas para pedir ao magnata que abandonasse a operação.
"Acreditávamos que a compra da BSkyB por parte da News Corp beneficiaria as duas companhias, mas se tornou evidente que é muito difícil progredir neste clima", declarou em um comunicado o vice-presidente do grupo, Chase Carey.
A News Corp, que possui 39% da maior plataforma de televisão por satélite britânica, apresentou em junho de 2010 uma oferta para adquirir as ações restantes por 7,8 bilhões de libras (12,5 bilhões de dólares) em dinheiro.
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Após obter em março o acordo de princípio do governo a esta aquisição, que, segundo seus opositores, ameaçava a pluralidade informativa britânica, a autorização definitiva parecia até alguns dias um simples trâmite.
Mas as novas revelações no escândalo das escutas do News of the World, que provocaram uma onda de indignação, mudaram radicalmente a situação, e embora Murdoch tenha fechado na semana passada seu popular tablóide dominical, precisou ceder finalmente à pressão.
Cameron "acolheu com satisfação" o anúncio. A News Corp e sua filial britânica News International "devem se concentrar em limpar e ordenar seus assuntos" após o escândalo, acrescentou um porta-voz de Downing Street.
O líder da oposição Ed Miliband, patrocinador da moção que gerou um incomum consenso entre a classe política, saudou a notícia como uma vitória. "Esta é uma vitória para as pessoas que, em todo o país, estão horrorizadas com as revelações do escândalo das escutas e com o fato de o News International não assumir a responsabilidade", declarou.
O escândalo, que inicialmente afetava sobretudo políticos e famosos, agravou-se na semana passada ao ser revelado que até 4 mil pessoas podem ter sofrido "grampos", entre elas uma adolescente assassinada ou familiares de vítimas dos atentados de 2005 em Londres.
Ao comparecer diante do Parlamento, Cameron revelou nesta quarta-feira os detalhes da investigação, presidida por um juiz e com a qual espera chegar ao fundo deste escândalo, que atinge também o resto da filial britânica de Murdoch, proprietária também do Sun, do Times e do Sunday Times.
O primeiro-ministro afirmou que a investigação será dividida em duas partes: a primeira é uma pesquisa sobre a conduta da imprensa e da polícia neste caso, enquanto a segunda terá como foco uma revisão exaustiva da regulamentação sobre a imprensa.
Enquanto isso, terá prosseguimento a investigação policial, que está "examinando 11 mil páginas de documentos, que contêm 3.870 nomes" de pessoas que podem ter tido seus telefones grampeados.
Em uma iniciativa sem precedentes, o próprio Murdoch, seu filho James, presidente da News International, e a diretora da subsidiária, Rebekah Brokes, foram convocados a declarar diante de uma comissão parlamentar, embora tenha sido muito possível que os dois primeiros se amparem em sua nacionalidade americana para não comparecer.
No entanto, o escândalo também é seguido de perto em seu país, onde o presidente da comissão de Comércio do Senado, Jay Rockefeller, pediu nesta terça-feira uma investigação para determinar se a News Corp. recorreu às mesmas práticas ilegais neste país.
Enquanto isso, o Wall Street Journal afirmou em seu site que a News Corp. está estudando a venda de todos os seus jornais britânicos, mas que as "pesquisas" realizadas entre possíveis compradores não foram frutíferas até o momento.