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Naufrágio de navio faz Medvedev exigir revisão nos serviços de transportes

O presidente russo, Dmitri Medvedev, ordenou uma revisão da segurança nos serviços de transporte, um dia depois de o naufrágio de um navio turístico no Rio Volga deixar mais de 100 mortos, no domingo. O acidente é considerado a pior tragédia na navegação do país nos últimos 25 anos. Até a noite de ontem, mergulhadores tinham resgatado 64 corpos. Estavam a bordo do Bulgaria, como era chamado o navio, 208 pessoas (148 turistas, 35 tripulantes e 25 passageiros não registrados), mas a embarcação não poderia transportar mais de 120. Um balanço divulgado pela manhã contabilizava 80 sobreviventes.

Medvedev declarou ontem que o Bulgaria era um navio velho e estava em condições precárias. ;Devemos realizar um exame total de todos os meios de transporte de passageiros;, determinou o presidente, que decretou luto nacional. ;Não há dúvida de que os barcos têm um tempo de exploração bastante longo, pois não são aviões, mas, segundo nossas informações, o estado dessa embarcação não era satisfatório;, prosseguiu. ;Isso não teria acontecido se as regras de segurança tivessem sido respeitadas.;

As autoridades estimam que pelo 50 crianças possam estar entre os mortos. Um sobrevivente relatou que muitas delas estavam reunidas em uma área de recreação, no convés, pouco antes de a embarcação afundar. Segundo o jornal Pravda, as autoridades russas abrirão um processo criminal sobre o acidente, sob suspeita de violação das leis de segurança. A embarcação afundou no Rio Volga, na República do Tartarstão, a 3km da margem, e o naufrágio ocorreu em poucos minutos. O barco, com 56 anos de uso, navegava sob más condições atmosféricas, com chuva pesada e ventos fortes.

Falhas
Os primeiros elementos da investigação apontaram que o navio iniciou o cruzeiro apesar de uma falha no motor principal esquerdo, e quando inclinava para estibordo, dizia ontem um comunicado oficial. ;Os buracos abertos podem ter contribuído para que a água entrasse rapidamente na embarcação;, completa a nota.

Segundo Igor Panchin, funcionário do escritório regional do Ministério para Situações de Emergência, o Bulgaria afundou depois de ter se partido em quatro pedaços. Os restos estão a 20m de profundidade, no leito do rio. Autoridades informaram que, com exceção de dois cidadãos de Belarus (antiga Bielorrússia), todos os passageiros eram russos.

Em entrevista ao canal de tevê Rossia24, sobreviventes denunciaram a ausência no navio de qualquer informação sobre as medidas de segurança. ;Não havia nenhuma indicação sobre o local onde estavam os coletes salva-vidas;, afirmou Natalia Makarova. Ela explicou ter escapado por uma janela no momento do naufrágio.

O Bulgaria foi construído em 1955 na então Tchecolosváquia, hoje dividida em República Tcheca e Eslováquia. Segundo o ministério russo dos Transportes, o navio foi submetido a controle técnico em junho e aprovado para navegação. Mas a promotoria local afirmou que a embarcação estava em serviço há 56 anos e não tinha licença para transportar passageiros. O Bulgaria não foi modernizado como a maioria dos barcos que navegam no Volga.

Citando analistas, a imprensa russa informou que embarcações do tipo do Bulgaria têm design obsoleto, e sua construção não permite resistir a mais que poucos minutos de uma entrada de água em quantidade considerável. ;As embarcações de 50 anos são um fenômeno comum na Rússia, o que não é normal;, declarou Irina Tiurina, porta-voz da União Russa de Turismo.

Acidentes de barcos são frequentes na Rússia desde que o país fazia parte da União Soviética, extinta em 1991. O mais famoso ocorreu em 1986, quando o navio de cruzeiro soviético Almirante Nakhímov naufragou no Mar Negro, poucos minutos depois de bater em um navio mercante diante do porto Novorossisk. A tragédia deixou pelo menos 423 mortos entre as 1.259 pessoas a bordo.