Jornal Correio Braziliense

Mundo

Oposição síria decide boicotar diálogo com governo até o fim da repressão

DAMASCO - O regime sírio organiza uma reunião sobre o diálogo nacional destinada a discutir as emendas constitucionais e examinar um projeto de lei sobre o pluripartidarismo, mas os opositores decidiram boicotá-la e se negam a participar em conversações antes do final da repressão.

A reunião, que durará dois dias, foi inaugurada neste domingo, na presença do vice-presidente Faruk al Shareh e 200 pessoas mais, membros do Partido Baath, independentes e representantes da sociedade civil (atores, escritores e intelectuais).

Shareh afirmou no início do encontro que as discussões servirão de preparação para uma grande reunião nacional.

Os participantes devem falar de reformas políticas, como emendas constitucionais e, entre elas, a cláusula que faz do Partido Baath, no poder desde 1963, "o dirigente do Estado e da sociedade".

Em um discurso pronunciado em 20 de junho, o presidente Bashar al Assad pediu um "diálogo nacional que poderá levar a emendas constitucionais ou a uma nova Constituição".

Os opositores ao regime, por sua vez, decidiram boicotar a iniciativa e reclamam que, antes de dialogar, seja feita a retirada das forças sírias das cidades, a libertação dos prisioneiros políticos e dos manifestantes pacíficos, e uma investigação dos crimes cometidos contra os manifestantes.

A repressão do movimento de protesto contra o regime, iniciado em 15 de março, custou a vida de mais de 1.300 civis, segundo as ONGs.

Por outro lado, o ministério sírio das Relações Exteriores convocou neste domingo os embaixadores dos Estados Unidos e da França para protestar contra sua visita à cidade rebelde de Hama (norte) sem autorização, informou a agência oficial Sana.

"O ministério convocou os embaixadores dos Estados Unidos e França e comunicou a eles sua enérgica condenação a sua visita a Hama sem prévia autorização, o que constitui uma ingerência flagrante nos assuntos internos sírios", anunciou a agência.

"Sua visita demonstra que existe um apoio e um incentivo do exterior para desestabilizar o país.

O embaixador americano Robert Ford visitou na sexta-feira Hama, cenário de uma imensa manifestação contra o presidente sírio Bashar al Assad. Seu colega francês, Eric Chevallier, também foi até essa cidade.

Na véspera, Washington também chamou para consultas o embaixador sírio após informações de que funcionários da embaixada Síria filmaram protestos contra o regime em Damasco nos Estados Unidos, informou nesta sexta-feira o departamento de Estado.

Uma reunião sobre o diálogo nacional organizada pelo regime sírio teve início neste domingo, em Damasco, com a presença do vice-presidente Faruk al Shareh, mas sem a oposição, que se nega a participar enquanto prosseguir a repressão das manifestações.

Os participantes começaram o encontro observando um minuto de silêncio em memória dos "mártires".