O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, rompeu na noite de ontem três semanas de sigilo sobre a situação de sua saúde e anunciou que a operação à qual foi submetido em Cuba, no último dia 10, revelou a presença de ;um tumor maligno; na região pélvica. Na ausência de boletins médicos, a única informação oficial divulgada até então era de que o motivo da cirurgia, realizada de emergência, tinha sido um abscesso pélvico. Em pronunciamento dirigido aos venezuelanos e transmitido pela emissora de tevê Telesur, Chávez, 56 anos, revelou que foi submetido a uma segunda intervenção: ;Durante a drenagem (do abscesso) apareceram suspeitas de outras formações celulares não detectadas até então. Outros estudos confirmaram a existência de um tumor com a presença de células cancerosas, e isso exigiu uma segunda intervenção, que permitiu a extração total do tumor;.
Chávez admitiu que está travando ;uma luta pela vida; e que sua recuperação será ;um processo médico longo e delicado;. Lamentou ter ;negligenciado a saúde;, mas reafirmou que está ;determinado a superar essa batalha; e encerrou com o tradicional lema hasta la victoria, sempre (;até a vitória, sempre;).
O pronunciamento foi feito no dia seguinte ao anúncio oficial do cancelamento, pelos anfitriões venezuelanos, da reunião de cúpula na qual seria fundada a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). O encontro seria realizado na Ilha Margarida, na próxima terça e quarta-feira, coincidindo com as comemorações do bicentenário da independência de Venezuela ; às quais Chávez não poderá assistir. Segundo o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, que recebeu a notícia em primeira mão quando participava da cúpula do Mercosul, em Assunção, o colega venezuelano, Nicolás Maduro, que telefonou de Havana, confirmou que a decisão foi tomada ;por recomendação médica;.
Nas últimas três semanas, Chávez tinha sido visto apenas duas vezes: no dia seguinte à operação e na última quarta-feira, quando a tevê cubana exibiu imagens de um encontro do visitante com o ex-presidente Fidel Castro. Chávez tinha também postado um breve texto em sua conta no microblog Twitter, na qual dizia estar ;lutando pela vida;.
Sucessão
No poder desde 1999, o presidente venezuelano se reapresentou ao país no momento em que as incertezas sobre sua situação começavam a causar intranquilidade nos próprios meios governistas, até então alheios à questão sucessória. Uma emenda constitucional patrocinada pelo próprio Chávez permite que o presidente ; como os demais titulares de cargos executivos ; dispute sucessivas reeleições sem limite de mandatos. ;Ele sempre projetou a imagem de homem forte e invicto, e o episódio (da operação) mancha um pouco essa imagem. Por outro lado, a população pode começar perceber que a nação é viável politicamente sem Chávez, e pode levar isso em conta nas eleições de 2012;, disse ao Correio Jose Vicente Carrasquero, professor de ciência política da Universidade Simón Bolivar, de Caracas.
Com o reconhecimento oficial de que está sob tratamento de câncer e continuará por mais tempo em Cuba, a oposição deve aumentar a pressão para que o presidente transfira suas funções ao vice, Elias Jaura. A doença de Chávez coincide com um momento difícil para o país em várias frentes, desde os cortes de eletricidade ao racionamento de gêneros alimentícios, sem falar em uma violenta rebelião de presos.