PEQUIM - O Partido Comunista Chinês (PCC), fundado há 90 anos por uma dezena de intelectuais, dirige atualmente a segunda maior economia mundial, mas alguns analistas estimam que os desequilíbrios do país e a falta de democracia ameaçam o regime a médio e longo prazos.
Com a aproximação do aniversário de fundação, no final de julho de 1921 em Xangai, foram distribuídos em todo o país cerca de 218 milhões de ingressos para o filme "Início do grande renascimento", que faz parte de uma campanha de propaganda do partido.
"Partido político marxista, o PCC teve desde 1921 um percurso glorioso e magnífico", estima o vice-presidente de seu comitê de organização, Wang Qinfeng, apesar dos milhares de mortos durante o Grande Salto Adiante (1959-61) e na Revolução Cultural (1966-1976), reconhecidos pelo regime.
Após o falecimento de Mao, em 1976, três décadas de "reformas e abertura" dirigidas por Deng Xiaoping e seus sucessores transformaram a China em uma potência econômica, enquanto o partido abandonava diferentes aspectos do maoísmo, sem, no entanto, renunciar ao monopólio do poder.
Atualmente, entrar no partido é considerado um privilégio que permite o acesso a cargos cobiçados na administração pública ou nas empresas estatais, que continuam sendo a maioria na China.
No entanto, o PCC sofre muitas críticas. "Não sou membro do partido e nada deveria fazer para este aniversário, mas me obrigam a cantar depois do trabalho", lamentou um usuário do Weibo, o equivalente chinês do Twitter.
Outros protestam por serem obrigados a escrever textos elogiando o PCC e pagar cotas de filiação sem serem membros. Por sua vez, um internauta afirmou estar feliz porque seu patrão lhe deu um bônus de 500 iuanes (54 euros) pelo aniversário do partido.
O PCC anunciou no dia 24 de junho que no fim do ano passado possuía 80,27 milhões de membros, incluindo cerca de 7 milhões de trabalhadores e quase outros tantos funcionários.
O número de membros duplicou desde o lançamento da política de abertura e de reformas no fim dos anos 1970, quando contava com 37 milhões.
O partido no poder na China desde 1949 conta atualmente com 22,5% de mulheres e mais de um quarto de seus integrantes são maiores de 60 anos, segundo Wang. O número de camponeses supera os 24 milhões.
Um total de "32 mil membros saíram do partido, em maioria expulsos. Estas medidas serviram para garantir o caráter avançado e a pureza", assegurou Wang, em um momento no qual a corrupção está muito espalhada e é um tema importante no país.
Em seu livro "O Partido - O Mundo Secreto dos Dirigentes Comunistas da China", o ex-correspondente em Pequim do Financial Times, Richard McGregor, afirma que o sistema centralizado no qual o PCC nomeia os líderes em todos os níveis, em um país de 1,34 bilhão de habitantes, tem um alto grau de corrupção que, em alguns locais, acabou formando um mercado onde se vendem e compram cargos cobiçados.
"Muita gente tem uma boa opinião dos dirigentes de mais alto escalão, mas desconfiam dos governos e autoridades locais", declarou à AFP Hu Xingdu, professor no Instituto de Tecnologia de Pequim.
Para James Seymour, professor na Universidade chinesa de Hong Kong, dadas as "debilidades inerentes ao sistema", o PCC poderia perder o poder a médio ou longo prazo. "Levando em conta a experiência do Kuomintang (em Taiwan) e da União Soviética, restam apenas uns dez anos a mais", acrescentou.