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Confrontos no Cairo deixam mais de mil feridos

CAIRO - Mais de mil pessoas ficaram feridas, a maioria levemente, em violentos confrontos entre policiais e manifestantes no Cairo, num clima de tensão e incerteza política, mais de quatro meses após a queda do presidente Hosni Mubarak.

Os confrontos começaram na noite de terça-feira e foram até a madrugada desta quarta-feira entre manifestantes e a polícia de choque no centro de Cairo, principalmente na praça Tahrir, palco principal do movimento contra o regime de Mubarak no começo do ano.

Segundo o ministério da Saúde, 1.036 pessoas ficaram feridas, e 120 foram atendidas em hospital.

Outros choques prosseguiram na manhã desta quarta-feira, principalmente nos arredores do ministério do Interior, cercado por um forte aparato policial. Pequenos grupos de manifestantes continuavam atirando pedras contra os policiais, que revidavam com o lançamento de gases lacrimogêneos.

De acordo com dados oficiais, as violentas manifestações deixaram entre 70 e 80 feridos, entre eles alguns policiais. A segurança egípcia calculou em cerca de 4 mil o número de manifestantes durante a noite.

Milhares de pedras eram vistas espalhadas pelo chão na manhã desta quarta-feira, confirmando a intensidade dos confrontos. Muitas ruas do centro da capital estavam fechadas pela polícia.

Segundo testemunhas, estavam envolvidos nos confrontos os manifestantes do movimento que contribuiu para derrubar Mubarak e partidários do ex-chefe de estado.

O exército, que governa o país, publicou na rede social Facebook um comunicado denunciando uma tentativa de "desestabilização" do Egito.

"Os lamentáveis incidentes que ocorreram em Tahrir na tarde de terça-feira até a madrugada de quarta têm como a única razão desestabilizar a segurança do Egito", diz o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA).

Hosam Edin Ammar, membro da "Coalizão de Jovens da Revolução", que reúne vários grupos de militantes favoráveis à democracia, acusou-os de serem "elementos leais ao antigo regime".

Testemunhas também confirmaram a presença de civis armados com paus e facas, que algumas vezes chegavam de ônibus, lembrando os métodos utilizados nos tempos de Mubarak para intimidar os opositores.

Os enfrentamentos começaram de tarde durante uma ceremônia num teatro do centro do Cairo em homenagem às vítimas dos protestos contra Mubarak em janeiro e fevreiro.

Estes distúrbios ocorrem num clima político tenso, marcado por uma manifestação violenta de partidários de Mubarak no Cairo na semana passada.

O ex-chefe de Estado está hospitalizado na cidade balneária de Sharm-el-Sheikh enquanto aguarda a abertura de seu julgamento, prevista para 3 de agosto.

Horas antes de início dos confrontos, foi anunciada a dissolução pela justiça dos conselhos municipais eleitos durante a presidência de Mubarak e dominados por partidários do antigo regime.

Paralelamente, o exército vem sendo cada vez mais criticado pela maneira como dirige a transição.

A polêmica é grande sobre as eleições legislativas, previstas para setembro, cujo adiamento tem sido pedido pelos que temem que a Irmandade Muçulmana vença devido ao despreparo dos outros partidos. O calendário da elaboração de uma nova Constituição e o espaço da religião nas instituições também são objetos de debates acalorados.

Uma grande manifestação está sendo convocada para o dia 8 de julho a fim de reafirmar os ideais democráticos do movimento contra Mubarak.