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Síria: em Damasco, dissidentes exigem democracia

DAMASCO - Dissidentes sírios pediram nesta segunda-feira por democracia e pelo fim pacífico do regime de Bashar al-Assad em um encontro do qual mais de 100 pessoas participaram, incluindo ex-presos políticos.

As autoridades sírias, paralelamente, convidaram a oposição a uma reunião em 10 de julho para discutir mudanças-chave na Constituição e para conter a onda de protestos que causaram confrontos entre manifestantes e as forças de segurança desde meados de março.

Líderes da oposição, todos independentes de partidos, reuniram-se em um hotel em Damasco para discutir um jeito de sair da crise em um evento público segundo eles sem precedentes em cinco décadas de regime do Baath.

"Há dois caminhos à frente - o primeiro movimento claro e inegociável para uma transição pacífica para a democracia que inclui resgatar nosso país e nosso povo", afirmou o ativista Munzer Kaddam durante o evento.

"A alternativa é uma estrada que leva para o desconhecido e que destruirá todos nós", completou.

"Nós estamos com o povo e escolhemos o primeiro caminho. Aqueles que se recusarem a isso irão para o inferno."

Anwar Bunni, um proeminente advogado que ficou preso por cinco anos, disse que esta foi a primeira vez que "um encontro deste tipo em um lugar público é anunciado com antecedência".

Louai Hussein, escritor de oposição e líder ativista, disse que os participantes defenderam uma "transição pacífica" e pediram "a criação de um Estado democrático baseado na cidadania e nos direitos humanos".

"O regime tirânico no poder precisa ir embora", disse Hussein, que passou de 1984 a 1991 atrás das grades por seu envolvimento no Partido Comunista sírio, proibido pelo governo.

"Estamos aqui para falar abertamente e livrevemente. O sistema político pode cair e precisamos trabalhar desde já para evitar que a sociedade se desintegre", acrescentou.

Michel Kilo, ex-preso político e ativista pró-democracia, alertou as autoridades de que uma "solução pela via da segurança" poderia levar o país à "destruição".

"A sociedade precisa modelar o poder e não o contrário", disse, pedindo que toda a estrutura do regime seja extirpada.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, sediado em Londres, informa que 1.342 civis morreram desde o início dos protestos, além de 342 oficiais das forças de segurança.

O presidente da Liga Síria de Direitos Humanos, Abdel Karim Rihawi, disse que a reunião não tinha como objetivo "substituir os manifestantes nas ruas".

"Conversamos para formular uma estratégia nacional sobre como acabar com a atual crise na Síria", disse à AFP.

Paralelamente, as autoridades convidaram as oposições para uma reunião em 10 de julho, informouo a agência estatal Sana.

A reunião teria como objetivo abrir um debate sobre a Constituição, "especialmente sobre a cláusula 8", que estipula que o atual partido Baath é o líder tanto do Estado sírio como da sociedade, informou a agência.

A remoção da cláusula 8 tem sido a principal demanda dos ativistas da oposição.

O advogado Bunni disse à AFP que os oponentes de Assad aceitariam sua proposta de "diálogo nacional" apenas no caso de manifestações pacíficas serem autorizadas, presos políticos libertados, e a oposição reconhecesse o fim do uso da força.

Alguns dos dissidentes que se reuniram em Damasco se distanciaram dos ativistas de oposição que se encontraram em um resort turco de Antalya este mês e que incluíram membros da Irmandade Muçulmana, banida, assim como políticos seculares.

"Não temos ligação com os ativistas oposicionistas no exterior - nós questionamos seus reais objetivos", disse o escritor Nabil Saleh.

Paralelamente, Assad discutiu "as legítimas demandas de seu povo, os atuais eventos e a implementação de reformas", durante um encontro com o congressista americano Dennis Kucinich, informou a mídia oficial.

Os Estados Unidos, por sua vez, consideraram que a reunião pública sem precedentes de opositores em Damasco é um "acontecimento importante".

"É a primeira deste tipo em várias décadas. Cerca de 160 pessoas estão participando. Não sabemos os resultados, mas é a primeira reunião de representantes da oposição na Síria", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, a jornalistas em Washington.

As forças de segurança síria ampliaram suas operações de busca de dissidentes nas fronteiras do país, o que provocou uma migração de cerca de 11.000 refugiados para a Turquia e centenas para o Líbano.