O Congresso colombiano começou a decidir ontem se há sustentação para que uma acusação contra o ex-presidente Álvaro Uribe por ter autorizado ou tolerado escutas ilegais durante seu governo (2002-2010) possa se converter em investigação formal. O ex-mandatário testemunhou ontem pela primeira vez diante de uma comissão de inquérito. A sessão foi aberta ao público e transmitida pela televisão e pela internet. Seria decidido se o caso seguiria ou não para os senadores, a quem cabe definir se há indícios suficientes para a abertura de um processo penal na Corte Suprema de Justiça.
Segundo a procuradoria, o caso envolve escutas e perseguições ilegais do Departamento Administrativo de Segurança (DAS, serviço de inteligência, subordinado diretamente ao presidente). A lista de vítimas da espionagem inclui juízes da Corte Suprema que teriam questionado vínculos entre políticos uribistas e esquadrões paramilitares de extrema direita. Expoentes da oposição, entre eles os ex-senadores Gustavo Petro (esquerda) e Piedad Córdoba (liberal), além de vários jornalistas, foram gravados, seguidos e hostilizados por agentes do DAS.
Algumas das vítimas acusam Uribe de ter ordenado as operações, mas o ex-presidente assegura que as evidências e depoimentos contra ele são falsos ou foram manipulados. Piedad Córdoba não compareceu à audiência porque, segundo ela, não havia ;garantias de segurança; para sua presença.
Durante a sessão, um dos advogados de Uribe, Jaime Lombana, alegou que não existiam ;garantias, nem equidade, nem equilíbrio na audiência contra o presidente Álvaro Uribe;. Ele denunciou ;uma tramoia que faz pouco da Justiça; e classificou como ;inaceitável; o prosseguimento do caso. ;Essa é uma grande cadeia de infâmias. A única coisa que peço é que me escutem;, defendeu-se Uribe, que solicitou a sessão de ontem para expor sua versão. A audiência foi suspensa por meia hora porque os advogados de Piedad Córdoba recusaram os nomes dos parlamentares Yahir Acuña e Heriberto Escobar para o comando do caso.
Redução de pena
Escândalo das escutas ilegais ocorreu em 2009 e dois ex-diretores da DAS ; Fernando Tabares e Jorge Lagos ; já foram condenados. Eles, entretanto, negociaram a diminuição de penas em troca de informação. Há um mês, a procuradoria atribuiu responsabilidade no caso ao ex-secretário da Presidência Bernardo Moreno e à ex-diretora do DAS María del Pilar Hurtado, atualmente exilada no Panamá. A procuradoria alegou que os dois realizaram atividades de inteligência ;sem mandado judicial, em especial (contra) os juízes da Corte Suprema;. Uribe argumentou que seus ex-funcionários podem pedir asilo por considerar que não têm garantias judiciais na Colômbia.
O ex-presidente colombiano decidiu suspender um contrato de professor convidado da Escola Nacional de Engenheiros de Metz, na França, após vários protestos de organizações sociais e políticas contrárias ao convite. ;O contrato de Uribe como professor convidado se encerrou no início de abril;, informou a instituição na última quarta-feira. A contratação do ex-mandatário, que em março deu suas primeiras aulas sobre desenvolvimento econômico da América Latina, foi criticada inclusive pelo Parlamento Europeu. Em 2010, protestos de estudantes e intelectuais tinham forçado Uribe a desistir de lecionar na Universidade de Georgetown, em Washington (EUA).