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Partido do primeiro-ministro turco vence eleição legislativa pela 3ª vez

Apesar da vitória, Erdogan terá que negociar reforma constitucional com a oposição

ANCARA - O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, saiu fortalecido das eleições legislativas, nas quais seu partido moderado islamita venceu pela terceira vez consecutiva, mas terá que negociar com a oposição e levar em conta o voto curdo para seu projeto de reforma constitucional.

O Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), de orientação islamita moderada, obteve no domingo 49,9% dos votos, segundo contagem ainda oficiosa, o que seria seu melhor resultado e a terceira vitória consecutiva em legislativas. Mas o AKP, no poder desde 2002, não conseguiu alcançar as 330 cadeiras no Parlamento que lhe permitiriam lançar seu projeto de reforma constitucional sem o apoio de outros partidos, uma vez que controla 326 cadeiras.

Em discurso, Erdogan admitiu que "o povo" transmitiu a mensagem de que a nova Constituição deve ser elaborada mediante o consenso e a negociação. "Não fecharemos nossas portas, iremos à oposição", disse.

Durante a campanha eleitoral, Erdogan se comprometeu a mudar a Carta Magna, herdada do golpe de Estado militar de 1980, mas não entrou em detalhes.

O principal partido da oposição, o Partido Republicano do Povo (CHP), de centro-esquerda, se situa na segunda posição nas eleições, com 25,9% dos votos e 135 cadeiras, seguido do Partido de Ação Nacionalista (MHP, nacionalista), com 13% e 53 cadeiras. Além do AKP, o partido pró-curdo BDP (Partido da Paz e da Democracia) também saiu vencendo, passando de 20 para 36 cadeiras.

Um apoio do BDP pode ser crucial para avançar a uma nova Constituição, mas este partido poderia impor condições. Os representantes dos curdos, entre 12 e 15 milhões de um total de 73 milhões, estimam que seu povo deveria dispor de um estatuto de autonomia na nação turca.

O tema curdo é recorrente na política turca: o líder dos rebeldes curdos, Abdulá ;calan, atualmente preso, ameaçou Ancara com uma guerra total se depois das eleições não ocorrerem negociações sérias entre o poder e os rebeldes.

A imprensa vinculada à oposição duvida, no entanto, que Erdogan tenha a intenção de negociar e estender a mão aos opositores. "Se o primeiro-ministro quer governar em paz, deveria se dar conta e não esquecer nunca de que há também 50%" do eleitorado contra ele, escreveu nesta segunda-feira o editorialista Mehmet Yilmaz, no jornal Hürriyet. Seu projeto de reforma constitucional, com um sistema presidencial à sua medida, faz temer pelo futuro da democracia turca.

Há dezenas de jornalistas na prisão e a oposição denuncia restrições ao uso da internet e a venda de álcool. Erdogan tentou tranquilizar todo mundo na noite de domingo: "ninguém deve duvidar do feito de que será para mim uma questão de honra proteger o estilo de vida, as crenças e os valores tanto dos que votaram em mim quanto dos que votaram contra", prometeu.