LIMA - A crescente percepção no Peru de que o ex-presidente Alberto Fujimori -condenado por crimes contra a Humanidade- possa receber um indulto antes do final do governo de Alan García, em 28 de julho, deixou em alerta os ativistas dos Direitos Humanos que rejeitam essa possibilidade.
Na quinta-feira passada, quatro dias depois da derrota de sua filha Keiko na eleição peruana pelo militar da reserva Ollanta Humala, o ex-presidente Fujimori -que desde 2009 cumpre 25 anos de prisão por violação dos Direitos Humanos- foi submetido a um exame oncológico e, pela primeira vez em muito tempo, sua imagem foi captada por uma câmera de vídeo.
A imagem abatida do ex-mandatário foi o ponto de partida para que seus partidários solicitassem o indulto por "razões humanitárias" devido a uma lesão cancerosa na língua que foi identificada há vários anos, enquanto os ativistas dos Direitos Humanos começaram a suspeitar de uma manobra para que fosse retirado da prisão.
O congressista e médico pessoal de Fujimori, Alejandro Aguinaga, informou no momento de sua internação na quinta-feira que o paciente havia perdido 16 quilos desde 2007. Rafael Rey, porta-voz fujimorista, disse após visitar o ex-presidente no hospital que "por questões morais, deveria ser indultado pelo (presidente eleito) Ollanta Humala ou pelo atual presidente Alan García".
"Estamos muito preocupados com esta possibilidade. Seria uma manobra política, e um indulto seria vergonhoso para o Peru e para todo o sistema latino-americano de Direitos Humanos", disse à AFP Rocío Silva Santisteban, diretora da Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos. "Uma medida desse tipo nestas circunstâncias anteriores à mudança de governo seria deixar uma bomba-relógio para o novo governo" do presidente eleito Humala, que assumirá a Presidência no dia 28 de julho sucedendo Alan García.
A primeira-ministra Rosario Fernández disse nesta segunda-feira que "o indulto não está na agenda do presidente García" e que o tema "está na agenda do presidente eleito Ollanta Humala, e quando ele assumir a Presidência decidirá se é uma atribuição que quer ou não fazer".
Humala disse em entrevista ao jornal El Comercio que "o indultaria (Fujimori) por razões humanitárias. Ninguém tem por que morrer na prisão, a não ser aqueles que estão sob pena de prisão perpétua por terem abusado de menores de idade".
Keiko Fujimori, filha do ex-mandatário derrotada por Humala, afirmou que su pai "está mais ou menos, e perdeu muito peso", mas se negou a falar sobre um possível indulto.
O maior temor dos grupos defensores dos Direitos Humanos é que, caso seja liberado, Fujimori -que governou entre 1990 e 2000, quando renunciou ao seu cargo- possa fazer uso de sua dupla nacionalidade peruana e japonesa, e viaje para o Japão. Silva Santisteban considerou que a possibilidade de Fujimori ir ao Japão "seria terrível".
O analista Augusto Alvarez considerou nesta segunda-feira no jornal La República que os indultos "se justificam, sem dúvida, por um sentido humanitário. Mas o de Fujimori é um escândalo, pois (se for concedido) constituirá o pagamento final a um acordo político" entre o governo e o fujimorismo.