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Talibãs negam responsabilidade no ataque que matou 39 pessoas no Paquistão

PESHAWAR - O grupo dos talibãs do Paquistão negou a responsabilidade pelas duas bombas que explodiram num mercado lotado na cidade de Peshawar, quando 39 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas.

O ataque, um dos mais violentos no Paquistão desde a série que começou após o ataque do comando americano que acabo na morte de Osama Bin Laden no dia 2 de maio, devastou o bairro, destruindo o supermercado Khyber e afetando um hotel, lojas e um alojamento estudantil.

Uma pequena explosão inicial, que ocorreu por volta das 23:30 do horário local, atraiu curiosos e os serviços de emergência, e depois a segunda explosão, mais forte, foi ouvida a quilômetros de distância. Acredita-se que a segunda explosão tenha sido um ataque suicida.

"O número de mortos, vítimas do ataque, subiu para 39, quatro feridos morreram no hospital", afirmou o chefe de polícia Ijaz Khan à AFP, acrescentando que o intervalo entre a primeira e a segunda explosões foram de apenas quatro minutos.

"A primeira explosão foi pequena, mas as pessoas começaram a se aproximar, então veio a segunda explosão, muito mais forte."

O balanço inicial era de 35 mortos.

Mais de 4.400 pessoas morreram no Paquistão em atentados atribuídos aos talibãs e outros extremistas islamitas, com reduto nas regiões tribais do noroeste do país, desde que a força pública atacou em 2007 em Islamabad uma mesquita frequentada por radicais.

No entanto o talibã do Paquistão, que se comprometeu a realizar ataques para vingar a morte de Bin Laden, negou qualquer responsabilidade nas explosões e disse que eles têm como alvos dos ataques apenas o governo e militares.

"Nós não realizamos este ataque em Peshawar. Isso é uma tentativa de agências secretas estrangeiras de nos difamar", disse o porta-voz dos talibãs Ehsanullah Ehsan à AFP por telefone.

"Não atacamos pessoas inocentes. Nosso objetivo é claro, atacamos as forças de segurança, o governo e os que os apóiam", acrescentou.

Entre as vítimas fatais estão dois jornalistas que trabalhavam na versão em inglês dos jornais Pakistan Today e The News. Muitos jornalistas que trabalham em Peshawar moram em quartos sobre lojas e faziam refeições em restaurantes do mercado.

"O objetivo dos terroristas era matar um grande número de inocentes no movimentado mercado e os jornalistas se tornaram vítimas por acaso", informou o ministro da informação provincial Mian Iftikhar Hussain.

As explosões danificaram gravemente seis lojas e o hotel. Pedaços de carne humana, escombros e louças quebradas estavam espalhados pela rua.

"A primeira explosão foi causada por uma bomba-relógio instalada no banheiro do hotel enquanto o homem-bomba numa motocicleta se explodiu perto do hotel", disse o responsável pelo esquadrão anti-bombas Shafqat Malik à AFP.

"Nós encontramos a cabeça e pedaços do corpo do homem-bomba no local do ataque", afirmou.

Abdul Hameed Afridi, médico-chefe do principal hospital de Peshawar, confirmou o número de mortes e disse que 108 feridos foram levados ao hospital durante a noite, 47 deles recebem tratamento neste hospital e os outros foram transferidos.

Imagens de televisão mostram ambulâncias chegando ao local para levar os feridos, assim como os corpos das vítimas.

Além deste incidente, uma explosão no domingo feriu três homens numa estrada perto do povoado de Malpur, periferia da capital paquistanesa Islamabad, informou a polícia.

"Parece ter sido um velho explosivo enterrado perto da estrada sob entulhos e lixos", disse o oficial de polícia Bani Amin aos repórteres.

"Pai e filho que viajavam de moto e um homem num carro ficaram feridos com a explosão", afirmou Amin.

A última onda de violência ocorreu pouco depois da visita do presidente Hamid Karzai que pediu aos paquistaneses que terminassem com os redutos de militantes, numa conversa sobre o processo de paz com o Talibã.

A morte de Bin Laden aumentou os pedidos dos Estados Unidos para resoluções pacíficas no Afeganistão.

O atentado de Peshawar ocorreu uma semana depois da suposta morte do comandante da Al-Qaeda do Paquistão Ilyas Kashmiri, um dos líderes mais temidos da rede, que teria morrido num ataque teleguiado dos Estados Unidos no Waziristão do sul, perto da fronteira afegã.

Perto de Peshawar fica a porta de entrada para a acidentada região tribal nordeste do Paquistão, fortaleza do Talibã e dos militantes ligados à Al-Qaeda e onde os ataques bombas são comuns.