Centenas de milhares de pessoas marcharam neste sábado (11/6) em Roma durante a Parada Gay, chamada EuroPride, na qual criticaram o premiê Silvio Berlusconi por não conceder direitos a casais do mesmo sexo. A cantora americana Lady Gaga encerrou o evento, e pediu a "revolução do amor".
"Quero dizer ao mundo, à Europa, e sobretudo à Itália, que é um pouco fechada, que temos o direito de sermos tratados como seres humanos", disse Nikita, 22 anos, vestido com um terno prateado, usando plumas e salto alto.
Em um ambiente festivo, no qual abundavam bandeiras com arco-íris, podiam ser lidos slogans como "Pessoas diferentes, mesmos direitos" ou "Igualdade e direitos humanos para todos". Os participantes acompanhavam quarenta carros, entre eles o das "famílias arco-íris", com pais gays e suas crianças. Em um tom mais provocativo, um homem disfarçado de bispo carregava palavras como "pedofilia" e "abusos sexuais" grudadas em sua vestimenta.
Segundo os organizadores, 400.000 pessoas participaram do desfile. A polícia tinha feito uma previsão de 300.000 a 500.000 antes do evento. "A Itália é o único país que não reconhece o direito das lésbicas, dos gays, bissexuais e transexuais", disse Franco Grillini, membro do partido opositor Itália dos Valores e conhecido ativista. "A Itália deveria adaptar-se ao resto do mundo ocidental", completou.
A estrela pop Lady Gaga convidou os participantes a fazer "a revolução do amor" e defendeu a causa dos homossexuais no fechamento da parada, diante de centenas de milhares de pessoas.
"Devemos fazer a revolução do amor", "devemos ir adiante na defesa do amor", repetiu a artista americana em um discurso improvisado de quase meia hora no palco instalado no Circo Máximo, junto ao Coliseu e perto do Vaticano.
Vestida de forma comedida com um elegante terno preto e branco, da última coleção do estilista Gianni Versace, segundo indicou ela mesma, e com uma peruca verde, Lady Gaga não fez nenhum comentário provocador em relação ao governo de Silvio Berlusconi nem à Igreja, como temiam alguns políticos italianos.
"Sou cidadã do mundo e peço aos governos que facilitem nosso sonho de igualdade", completou a jovem de 25 anos, que lembrou suas origens italianas e seu verdadeiro nome, Stefani Germanotta.
A Itália é um dos poucos Estados europeus que não tem uma legislação específica contra a violência homofóbica, e que não contempla uniões civis, nem para os homossexuais nem para os heterossexuais.
Vladimir Luxuria, transexual e ex-deputado que criou em 1994 o primeiro festival gay da Itália, lidera a marcha, adornada com plumas. Segundo ela, "o Parlamento é homofóbico, dos pés à cabeça, e temos um primeiro-ministro hostil aos gays".
No ano passado, ao ser questionado sobre seus escândalos sexuais, surpreendeu a todos com sua resposta: "melhor amar as menininhas do que ser homossexual". O que deu lugar a outro slogan, rapidamente impresso em cartazes e camisetas: "melhor ser gay do que ser Berlusconi".
O prefeito de Roma, Gianni Alemanno (direita), dirigiu uma mensagem de vídeo aos participantes, na qual diz: "nossa cidade é hospitaleira e aberta a todo o mundo". Para a ocasião, foi mobilizado um importante dispositivo de segurança em Roma.
Um grupo religioso, "a milícia de Cristo", previa protestar contra o desfile, e diversas personalidades políticas católicas convidaram a cantora americana pop Lady Gaga a não provocar o Papa.
"O mundo gay não se sente representado por alguém que faz vídeos que ofendem Jesus", disse Rocco Buttiglione, vice-presidente da Câmara Baixa do Parlamento.