MANÁGUA - Uma "marcha das vadias" para protestar contra a discriminação e a violência contra as mulheres, muitas vezes criminalizadas no lugar de seus agressores, foi convocada para este sábado na cidade de Matagalpa, norte da Nicarágua.
O movimento (slutwalk) começou em abril em Toronto, Canadá, depois que algumas mulheres foram vítimas de estupros e o chefe de polícia afirmou que elas deveriam "parar de se vestirem como putas para não serem vítimas" de violência. No dia 4 de junho, cerca de 300 manifestantes com cartazes, bom humor e pouca roupa haviam desfilado pelas ruas de São Paulo para protestar contra preconceitos machistas.
A chamada dirige-se a todas as mulheres que romperam o preconceito, as que trabalham fora de casa, as divorciadas, as que têm filhos sem saber quem é o pai, e todas as outras que sofrem ou sofreram algum tipo de violência, afirma Geni Gómez da Rede de Mulheres de Matagalpa.
Com o nome da marcha realizada, "devolvemos" uma palavra usada nos insultos, para desqualificar as mulheres. "Vadia, é uma palavra forte, agressiva, mas que temos que usar para mobilizar as pessoas, para que tenham consciência disso e reflitam" sobre o que está acontecendo, acrescentou Gómez. "Talvez nem todas se atrevam a marchar, mas esperamos que muitas considerem a marcha atraente e provocante", afirma Gómez que através da Rede de Mulheres mantém uma continua denuncia da violência contra a mulher.
O movimento, que ganha força em vários países, combate a ideia de que as mulheres sejam culpadas pela própria violência sofrida, e isso "tambiem ocorre aqui (no Nicarágua) as agressões são justificadas pela maneira com que se vestem, como saem às ruas, pelo jeito de andar e de falar", lamentou.
As formas de agressão à mulher vão desde o extremo como um assassinato até a piadas de conteúdo machista; no dia a dia, o desprezo pelas mulheres ocorre de muitas maneiras: no trabalho, no estudo e enquanto dirigem. O homem que mata uma mulher assume que tem o direito sobre a vida dela e se justifica dizendo que "foi deixado".
A Rede de Mulheres registrou até maio deste ano o assassinato de 40 mulheres por namorados, maridos, noivos ou até vizinhos e familiares.
Matagalpa, uma cidade conservadora localizada no norte do país, lidera a lista de assassinatos de mulheres junto de Managua e a Região Autônoma do Atlântico Sul. A maioria dos casos fica na impunidade. "Não aceitamos que nos clasifiquem ou nos rotulem (...) Nós, mulheres, temos o direito de exigir que nos respeitem, que respeitem a nossa palavra, o nosso corpo e quando dizemos não é não", disse Gómez, uma espanhola nacionalizada nicaraguense.
A marcha contra a violência cometida contra as mulheres é uma das iniciativas que se espalharam pelo mundo através das redes sociais. Começou no Canadá e já passou, além do Brasil, pela Holanda, Inglaterra, Argentina entre outros países. O México fará a sua no domingo, dia 12.