LIMA - Seja qual for o resultado da eleição presidencial peruana no domingo, disputada pelo esquerdista Ollanta Humala e pela direitista Keiko Fujimori, ele(a) terá que formar alianças no Congresso, onde a forte polarização política impede a existência de uma maioria absoluta por qualquer uma das partes.
O novo presidente, que assumirá o poder no dia 28 de julho - dia nacional do Peru - encontrará um Congresso fragmentado e nem Humala nem Keiko têm condições de obter os 66 assentos necessários para contar com uma maioria absoluta. "Somos uma força política responsável e isso nos obriga a discutir propostas com todos os membros do Congresso", disse na sexta-feira Humala em uma reunião com a imprensa estrangeira.
O esquerdista disse ainda que poderia atingir a maioria no Congresso caso receba o apoio do partido Perú Posible, com o qual somaria 68 votos e obteria o controle do Parlamento, onde enfrentará uma oposição hostil de setores conservadores, que o vinculam ao presidente venezuelano Hugo Chávez.
O ex-presidente Toledo participou ativamente a favor de Humala na reta final da campanha, anunciando que votará nele "para impedir o retorno da corrupção", que, em sua opinião, é o que representa Fujimori. "Com o Perú Posible podemos garantir a estabilidade democrática do Congresso e teremos maioria parlamentar para um trabalho eficaz. Isso Keiko não pode garantir", disse Humala.
A candidata da Fuerza 2011, Keiko Fujimori, precisaria de uma aliança ainda mais ampla para alcançar os 66 votos, buscando votos inclusive em bancadas opostas como Gana Perú e Perú Possible.
O sociólogo Fernando Rospigliosi disse à AFP que "a possibilidade de formar alianças no Congresso está equilibrada porque há muitos vira-casaca", em alusão aos legisladores que mudam de bancada constantemente. "Haverá vários congressistas que vão apoiar ao governo seja qual for o vencedor, pois os partidos são quase inexistentes, quase não há ideologias e os congressistas recém-eleitos entram para buscar benefícios pessoais", disse Rospigliosi, que foi ministro do Interior do governo Toledo (2001-06).
Rospigliosi considera que não será fácil que o Perú Posible apoie um bloqueio a Humala: "O problema é que a bancada de Toledo não vai responder a ele porque há uma parcela de congressistas que são convidados por outros partidos". "A bancada do Perú Posible é uma das bancadas mais frágeis do Congresso", disse Rospigliosi.
"No caso de Keiko Fujimori, podem haver os mesmos problemas de Humala para fornecer uma maioria sólida, pois as bancadas da Solidaridad Nacional (9 votos) e Alianza por el Gran Cambio (12) são frágeis e podem se dividir", advertiu.
No novo Congresso, que assumirá funções também no dia 28 de julho, o humalismo quase duplicou seus 25 assentos atuais e o fujimorismo quase triplicou os 13 com que contava. Em contrapartida, o APRA, do presidente Alan García, caiu de 36 para 4 posições.