LIMA - O Peru escolhe seu novo presidente neste domingo (5/6), entre Ollanta Humala, um militar reformado que desperta o temor de mudanças - poderia modificar o modelo econômico que fez o país crescer -, e Keiko Fujimori, herdeira de um regime caracterizado pela corrupção e a violação aos direitos humanos. Mas o maior drama desta eleição, num país que cresceu no ano passado quase 9%, e que ainda possui 34% de pobres, não está no resultado apertado, mas na avaliação negativa feita pelos peruanos dos candidatos.
O postulante da esquerda nacionalista Ollanta Humala e sua adversária da direita populista Keiko Fujimori estão em situação de empate técnico, de acordo com as últimas pesquisas realizadas pelos institutos peruanos, a 48 horas do segundo turno da presidencial de domingo.
Uma definição precisa da campanha foi dada pelo pintor Fernando de Szyszlo, um dos grandes intelectuais do Peru: "são duas posições extremas que polarizaram o país, fazendo desta uma eleição envenenada, raivosa e sem convicção".
Giovanna Peñaflor, diretora da Consultora Imasen, disse à AFP que "nunca antes houve uma sensação tão marcada de um salto no vazio". "No caso dele, a incerteza é do tipo econômico e, no dela, de tipo democrático", acrescentou. "Se Humala ganhar no domingo, já na segunda-feira haverá sérias pressões de volatilidade financeira na Bolsa e na taxa de câmbio", disse à AFP Elmer Cuba, da consultora Macroconsult, uma das mais antigas do Peru.
Uma eventual libertação do ex-presidente Fujimori, temida pela oposição, "geraria uma situação muito difícil, pois encontraria uma oposição social muito forte, com vários problemas de governabilidade", disse à AFP o historiador Nelson Manrique.
A campanha foi encerrada na quinta-feira, com ataques e promessas renovadas para convencer 14% de indecisos, que vão finalmente determinar quem governará nos próximos cinco anos este país de 29 milhões de habitantes, dos quais quase 20 estão habilitados a votar.
Os ataques são feitos num clima enraivecido ao qual a imprensa se alinhou, inclusive com Vargas Llosa decidindo suspender sua coluna no jornal El Comercio, decano da imprensa peruana, por considerar indigna a posição do diário em favor de Keiko.
Duas enquetes obtidas nesta sexta-feira pela AFP dão resultados diferentes:
Humala, 48 anos, teria 51,8% das intenções de voto contra 48,2% dados a Keiko Fujimori, 36 anos, numa pesquisa realizada nesta quinta-feira junto a 1.800 pessoas no conjunto do país pelo Centro de Estudos de opinião, da Universidade católica, com margem de erro de 2,3%.
O instituto Datum coloca a candidata da direita com leve vantagem, com 50,6% contra 49,4% para o rival da esquerda. A margem de erro desta sondagem, realizada entre os dias 31 de maio e 1; de junho, entre 4.820 pessoas, é de 1,4%.
Na quinta-feira, duas outras pesquisas apresentaram resultados semelhantes.
Keiko Fujimori estava na cabeça com 51,1% das intenções de voto, contra 48,9% na Ipsos-Apoyo, enquanto que o CPI concedia uma leve vantagem ao candidato da esquerda (50,5% contra 49,5%).
"O país está dividido em duas partes iguais. Nunca vimos uma eleição tão disputada como esta na história do Peru", declarou nesta quinta-feira Fernando Tuesta, diretor do Centro de Estudos de opinião da Universidade Católica, resumindo a opinião geral.
Segundo ele, os dois candidatos despertam fortes preocupações no eleitorado: Keiko Fujimori devido às condenações de seu pai Alberto Fujimori, presidente de 1990 a 2000, por corrupção e violações aos direitos humanos e Ollanta Humala por sua aproximação, nas últimas eleições peruanas com o presidente radical da Venezuela Hugo Chavez, mesmo se afirme, hoje, que isso foi um "erro".
As primeiras pesquisas de boca de urna, divulgadas ao final do pleito, no domingo (16h00 locais, 18H00), podem não estar na medida de designar um vencedor, segundo os institutos. Se a disputa for muito acirrada, como deverá ser o caso, os resultados oficiais poderiam demorar até segunda-feira.