Chicago - O principal defensor do suicídio assistido, Jack Kevorkian, morreu nos Estados Unidos nesta sexta-feira (3/6). Conhecido como "Doutor Morte", ele tinha 83 anos havia sido internado no mês passado com problemas renais. Kevorkian obrigou os Estados Unidos a confrontarem questões éticas, em torno de qual seria a melhor forma de se tratar a dor e o sofrimento dos doentes terminais, quando, em 1990 ,inventou um equipamento batizado de Thanatron, a "máquina do suicídio" e divulgou vídeo de alguns pacientes que pediam a ele para morrer.
O médico de origem armênia, que passou mais de oito anos preso pela morte de um homem como parte de um suicídio assistido, gravado e transmitido por uma rede de TV, afirmava ter ajudado 130 pessoas a morrer. "Não me arrependo de absolutamente nada", reiterou o Doutor Morte em uma entrevista concedida à CNN no ano passado.
O desespero que levou dezenas de pacientes terminais a viajarem até Michigan para serem submetidas à "máquina da misericórdia" - que matava por inalação de monóxido de carbono, às vezes em hotéis, outras dentro do próprio carro de Kevorkian - suscitou as discussões em torno do direito à morte. "Meu objetivo é fazer da eutanásia uma experiência positiva", justificou o Doutor Morte ao The New York Times em 1990, após realizar o seu primeiro suicídio assistido. A vítima, Janet Adkins, era uma professora de Oregon que sofria de Alzheimer. Os desvarios de Kevorkian, no entanto, alimentaram críticas.
Snuff movie
Em determinada ocasião, o Doutor Morte retirou corpos de alguns hospitais e os jogou em parques e prédios abandonados. Num outro episódio, mostrou os rins de um homem que ele havia ajudado a morrer em uma coletiva de imprensa em 1998, numa referência à doação de órgãos. Ele ainda gravou o momento em que injetava medicamentos em Thomas Youk, que sofria de esclerose lateral amiotrófica (ELA), apesar de ter perdido o seu registro médico, e enviou uma cópia para o programa 60 Minutos, da rede CBS.
Seus críticos compararam o vídeo a um "snuff movie", filmes que retratam assassinatos reais, gravados com o intuito de obter lucros com a venda de um crime explícito. O juiz encarregado do caso acusou Kevorkian de arrogância e falta de respeito à sociedade.
A campanha do Doutor Morte para legalizar a eutanásia, no entanto, não conquistou muitos defensores. Enquanto que Michigan, sua terra natal, rejeitou uma proposta de lei sobre o assunto, o estado de Oregon aprovou a legislação em 1997, o mesmo ocorrendo com Washington, em 2008.
Cerca de 525 pacientes em Oregon e 135 em Washington morreram depois de ingerir doses letais de medicamentos prescritos pelos seus médicos desde que as leis foram promulgadas, de acordo com registros oficiais.