HAIA - O ex-chefe militar dos sérvio-bósnios, Ratko Mladic, já foi levado, na noite desta terça-feira, ao alojamento penitenciário do Tribunal Penal Internacional para a extinta Iugoslávia (TPIY) em Haia, depois de extraditado pela Sérvia e ter permanecido foragido por 16 anos, anunciou o tribunal em comunicado. "Maldic, detido no dia 26 de maio, já está no centro penitenciário das Nações Unidas em Haia", informou o TPIY, criado pelas Nações Unidas em 1993.
Horas antes, a justiça sérvia havia rejeitado o recurso de apelação apresentado por Mladic contra a sua transferência para o TPIY. "Mladic é acusado de crimes contra a Humanidade e graves violações do Direito Humanitário. Ao decidir a transferência, a Sérvia cumpriu sua obrigação internacional e moral", acrescentou a ministra. "Trata-se de uma mensagem de reconciliação na região", insistiu a ministra.
[SAIBAMAIS]Termina, assim, a longa fuga do ex-chefe militar que durante anos escapou da justiça internacional, até ser detido quinta-feira na Sérvia em uma aldeia situada a cerca de cem quilômetros de Belgrado.
O procedimento judicial de sua transferência para Haia foi bruscamente acelerado nesta terça-feira, quando a Alta Corte de Belgrado rejeitou a apelação.
Sinal de que sua partida era iminente, Ratko Mladic foi levado nesta terça-feira de madrugada para visitar o túmulo de sua filha no cemitério de Topcider, em Belgrado, atendendo a um pedido que ele mesmo havia feito ao ser detido.
Ana Mladic, estudante de Medicina, se suicidou em 1994 aos 23 anos. Segundo a imprensa, a jovem não suportava mais ver seu pai acusado das atrocidades cometidas durante a guerra da Bósnia (1992-1995). Depois da visita, havia rosas e um círio sobre o túmulo, constatou um jornalista da AFP.
Na segunda-feira, Mladic também teria conseguido ver seus netos pela primeira vez desde sua detenção.
A defesa sustentava que seu estado de saúde "alarmante" não permitia que fosse enviado para Haia para ser julgado, mas os juízes da Alta Corte rejeitaram o argumento.
A chegada de sua esposa Bosiljka com uma grande mala azul e a saída em alta velocidade de um comboio de veículos do tribunal sérvio para os crimes de guerra, por volta das 14h40 GMT (11h40 de Brasília), dissiparam as últimas dúvidas sobre a partida do general.
Mladic é acusado pelo TPIY de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a Humanidade por seu suposto papel durante a guerra da Bósnia (1992-1995), principalmente pelo massacre de cerca de 8.000 pessoas em Srebrenica (Bósnia) em 1995, o maior já cometido na Europa depois do final da Segunda Guerra Mundial.
Também deve responder em particular pelo cerco a Sarajevo que provocou a morte de cerca de 10.000 pessoas. Mladic pode ser condenado à prisão perpétua.
A detenção de Ratko Mladic provocou reações dos ultranacionalistas sérvios, na Sérvia e na Bósnia, com uma manifestação de 10.000 a 15.000 pessoas no domingo à noite em Belgrado.
Os sérvios da Bósnia denunciaram a Sérvia, nesta terça-feira em Banja Luka, capital da República Srpska, atacando em particular o presidente sérvio Boris Tadic por ter ordenado a prisão de seu ex-chefe militar e chamando a Sérvia de "madrasta".