ROMA - A coalizão de direita do chefe de governo italiano, Silvio Berlusconi, registrou nesta segunda-feira (30/5) um humilhante revés eleitoral ao perder a prefeitura de Milão, seu reduto político há 18 anos, e sair derrotada em Nápoles, no sul do país.
Em Milão, a prefeita em fim de mandato e candidata de Berlusconi, Letizia Moratti, obteve apenas 44,9% dos votos contra 55,1% obtidos pelo candidato de esquerda Giuliano Pisapia, no segundo turno realizado domingo e segunda-feira.
Pisapia, advogado de 62 anos, promovido pelo governador de Puglia, Nichi Vendola, proveniente das filas da Refundação Comunista, venceu o candidato oficial nas primárias do Partido Democrático (PD). Acusado pela direita de ser um extremista, de querer converter a capital financeira em uma "ciganópolis", conseguiu unir as forças de esquerda e convencer o eleitorado, inclusive uma parte da burguesia industrial milanesa, com um estilo educado, baseado no diálogo e nos resultados concretos.
Há 15 dias, no primeiro turno, Pisapia tinha conseguido superar a prefeita em quase seis pontos, obtendo 48% dos votos contra 41,6%.
Milão, a capital econômica da Itália, cidade natal de Berlusconi e há quase duas décadas seu reduto eleitoral, além de ser a sede de seu império midiático Fininvest, deu as costas ao primeiro-ministro.
Um fracasso que terá repercussões devido ao fato de o chefe de governo ter transformado as eleições locais em um teste para sua pessoa, depois de um ano de escândalos sexuais e processos judiciais por corrupção que afetaram negativamente a popularidade do político milionário. Berlusconi participou ativamente na primeira fase da campanha e inclusive liderou a lista municipal.
Submeter-se ao segundo turno em Milão representou uma surpresa e um duro golpe para o magnata, cuja popularidade caiu de 60% em 2008 para 31% e decidiu mudar de estratégia, afirmando que os candidatos apresentados eram "fracos" e fomentando uma campanha indireta de desqualificações contra Pisapia. "Foi iniciada uma nova era para Milão", declarou Pisapia depois de conhecer os resultados, visivelmente satisfeito e em meio aos aplausos da multidão que gritava "Milão livre, Milão livre".
Com essa derrota, o chefe do governo italiano perde o poder sobre a principal região econômica do país, que passa para as mãos da esquerda, já que a maior cidade industrial soma-se às conquistas em primeiro turno das cidades de Bolonha e Turim.
Junto com Milão, foram realizadas eleições em Nápoles, atingida por uma grave crise do lixo.
O vencedor Luigi de Magistris provém da Itália dos Valores e é um dos líderes do partido fundado pelo juiz anticorrupção Anonio Di Pietro, importante rival do primeiro-ministro. A apuração dos votos aponta ampla vantagem a De Magistris, com 65,37% contra 34%, e seu rival já reconheceu a derrota.
A maioria dos analistas interpreta o fracasso de Berlusconi como o "começo do fim" de quase 20 anos de berlusconismo. "Berlusconi ficou fragilizado, trata-se de um fracasso pessoal", comentou o especialista francês Marc Lazar.