Um documento intitulado Declaração Número 1 ; divulgado ontem pelo general dissidente Ali Mohsen Al-Ahmar ; coloca a tomada de Zinjibar sob suspeita. No texto, o oficial acusa Saleh de ;render a província de Abyan a um grupo terrorista armado; e apela para que ;as forças do Exército se unam à revolução popular pacífica;. O presidente reagiu com ira e classificou os desertores de ;traidores; e de ;promotores da guerra;. ;Nós entendemos as demandas da revolução juvenil, mas pedimos a eles que se livrem dos elementos corruptos e traidores que abandonaram o Exército;, alertou Saleh, por meio de uma nota. Com base em relatos de médicos e de autoridades do setor de segurança, a agência de notícias France-Presse divulgou que os intensos combates entre as tropas e os extremistas mataram 23 pessoas desde sábado, em Zinjibar. Cinco civis teriam ficado na linha de fogo e acabaram mortos ontem.
Sob a condição de anonimato, um político de Zinjibar contou à AFP que os militantes da AQAP cercaram todas as brigadas mecanizadas do Exército iemenita. ;Os homens armados executaram os soldados que haviam se rendido e nos impediram de enterrar os militares; seus cadáveres ficaram expostos ao sol;, relatou outro morador da região, que também preferiu não se identificar. Fontes citadas pela agência Global Arab Network (GAN) afirmam que os extremistas controlam o banco central da província de Abyan ; da qual Zinjibar é a capital ;, a agência postal, o centro de telecomunicações, entre outras instituições. Jaar, cidade situada a 10km dali, também foi alvo dos integrantes da AQAP, que teriam libertado todos os prisioneiros. A região de Abyan é reconhecidamente um dos locais de pouca ou nenhuma influência do governo. A Al-Qaeda aproveita-se da impunidade e da falência do Estado para controlar áreas e montar campos de treinamento terrorista.
Morador de Sanaa, o ativista Ibrahim Mothana, 22 anos, também tem sérias dúvidas em relação ao que ocorreu em Zinjibar. ;Há grupos extremistas em Abyan, mas sua habilidade de controlar uma grande cidade como Zinjibar não é uma perspectiva realista;, afirmou ao Correio, pela internet. ;À medida que a pressão internacional sobre o governo aumenta, o presidente Saleh tenta aterrorizar o Ocidente, com a possibilidade de a AQAP tomar o controle do país;, acrescentou. Ibrahim recorda que o próprio líder citou essa ameaça durante um discurso recente. Ele tem razão nesse ponto. Em 21 de maio passado, Saleh foi à tevê e disse que a Al-Qaeda poderia capturar importantes partes do país, caso ele se visse obrigado a deixar o poder. ;Eu envio uma clara mensagem ao Ocidente (;) de que a Al-Qaeda será bem-sucedida e controlará a situação aqui, e tais países perceberão que isso é pior;, declarou.
A ferro e fogo
De acordo com a rede de TV Al-Jazeera, pelo menos seis manifestantes morreram em Taez depois que forças de segurança tentaram afugentar ativistas que acampavam na Praça da Liberdade. Os militares queimaram barracas e usaram canhões d;água e gás lacrimogêneo contra a multidão, que exige a saída de Saleh. A ação também deixou pelo menos 100 feridos. O Conselho de Defesa Nacional reuniu-se ontem em caráter de emergência e declarou sua completa rejeição a qualquer interferência externa na crise.
Denúncias e apelo à insurreição
O Correio teve acesso à versão em árabe do comunicado. No texto, o general condena e ;denuncia fortemente; a entrega de províncias a ;grupos de bandidos, sabotadores e terroristas;. Segundo o documento, o presidente Ali Abdullah Saleh ordenou aos militares e às autoridades de segurança que facilitassem o controle das instituições do governo por parte dos extremistas. Também explica como o mandatário permitiu que marginais utilizassem organismos militares em Sanaa e compara o Iêmen a uma nova Somália. ;Nós apelamos ao resto de nossos irmãos, às brigadas e unidades (do Exército) a declararem total apoio à revolução, para que se alinhem ao povo e à nação;, acrescenta.