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Peru: Filha de Fujimori e militar esquerdista correm atrás dos indecisos

De um lado, a filha de um ex-presidente preso por violação de direitos humanos e corrupção aposta em uma política tradicional e ortodoxa. Do outro, um candidato de esquerda, militar reformado, veterano de campanhas malsucedidas, clama por mudança. Keiko Fujimori e Ollanta Humala disputam uma das eleições mais acirradas do últimos tempos na América Latina. O empate técnico nas pesquisas presidenciais do segundo turno transformou a reta final da campanha no Peru em campo de batalha. A troca de acusações e as demonstrações de apoio deixaram os programas de governo em segundo plano. Agora, os dois têm até o próximo domingo para conquistar uma população divida. A vitória deve ser definida por poucos votos.

O resultado do primeiro turno mostrou o quanto os peruanos se dividiram. Humala venceu com 31,7% dos votos, enquanto a filha de Alberto Fujimori conquistou 23,5%. Agora, os dois apresentam empate técnico, com vantagem de três a sete pontos para a senadora, e com 15% dos eleitores ainda indecisos. ;Estamos a poucos dias da votação e os números estão muito paralelos. Um dos grandes problemas é que existem muito mais votos contra do que a favor dos candidatos. A campanha tem sido muito intensa e cheia de críticas de ambos lados;, disse ao Correio Fernando Tuesta, diretor do Instituto de Opinião Pública da Pontifícia Universidade Católica do Peru.

Nas últimas semanas, os candidatos disputaram os voto no corpo a corpo. Keiko respondeu às manifestações contra o fujimorismo apontando o adversário como um radical de esquerda e aliado do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Humala também lançou suspeitas de fraude, vagamente baseadas no apoio não declarado do atual presidente, Alan García, à candidata da direita. Para completar, milhares de camponeses da cidade de Puno ameaçam impedir a eleição se o Estado não criar regras para a mineração na região.

Alan García não se pronunciou sobre a eleição, mas demonstra indiretamente seu apoio à filha de Fujimori e ataca o candidato da esquerda, a quem derrotou em 2006. ;Os ataques entre os dois, sobretudo contra Humala, empobreceram as discussões mais importantes. Existe uma confusão total da população, e por isso os meios de comunicação deixaram de lado a linha informativa. Os principais jornais e canais de tevê estão a favor de Keiko;, comenta Tuesta.

Desigualdade
O Peru teve um crescimento anual médio de 9% no mandato de García, mas continua exibindo forte desigualdade social. Um terço dos cidadãos vive na pobreza e cerca de 53% não têm saneamento básico. O programa de governo de Keiko está centrado na erradicação da pobreza e na geração de empregos, com base na continuidade das políticas do atual governo. ;Ela faz questão de mostrar que tem o apoio do establishment, dos empresários e dos meios de comunicação. E seu pai continua a exercer muita influência;, afirmou Tuesta.

Na contramão, Humala defende a mudança do modelo econômico e quer promover uma reforma na Constituição legada por Alberto Fujimori. Ele também conta com apoios importantes, como o do escritor e prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa e o do ex-presidente Alejandro Toledo, que recebeu 15% dos votos no primeiro turno. ;É um respaldo importante para ele, ainda que tardio, porque os outros candidatos parecem estar todos com Keiko. Com todas as suas deficiências, Toledo é um líder comprometido com a democracia como poucos no Peru, e além disso foi o primeiro chefe de Estado de origem indígena;, comentou Cynthia Sanborn, professora de Ciência Política e diretora do Centro de Investigação da Universidade Pacífica do Peru.

Humala tentou se afastar do apoio declarado de Chávez e demonstrar uma relação mais direta com o Brasil, especialmente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores (PT). O candidato esquerdista conta com dois assessores brasileiros: Luís Favre, ex-marido da senadora Marta Suplicy (PT-SP), e Valdemir Garreta, dirigente petista. ;O Brasil é um país com importantes relações com o Peru. À medida que Humala ressalta sua maior afinidade com Lula, isso pode ajudá-lo. A questão é se as pessoas acreditam ou não que ele já não é mais parceiro de Chávez;, completou Sanborn.

Debate final
Para a especialista peruana, a contagem das urnas será como o fim de um filme, cheio de antecipação e, quem sabe, uma surpresa. ;Qualquer um dos dois pode ganhar. Como as pesquisas mostram empate técnico, provavelmente será um resultado muito apertado e lutado, voto por voto.; Na última batalha frontal, Keiko e Humala se enfentarão hoje em um debate pela televisão ; e devem usar todas as armas para vencer a guerra.