Pouco mais de um ano depois, a Europa volta a viver os transtornos aéreos provocadas por uma erupção vulcânica. Ontem, 500 dos cerca de 29 mil voos diários do Velho Continente foram cancelados por conta da nuvem de cinzas expelida pelo vulcão islandês Grimsv;tn. Milhares de passageiros ficaram em aeroportos da região norte. Apesar do temor da repetição de um caos, autoridades e especialistas garantem que a Europa está mais preparada para lidar com o problema desta vez.
O cancelamento dos voos foi anunciado pela Organização Europeia para a Segurança da Navegação Aérea (Eurocontrol), que classificou o impacto sobre os voos de ;relativamente baixo;. O organismo informou haver uma ;forte possibilidade; de que a nuvem de cinzas atinja hoje a Dinamarca, o sul da Noruega e o sudoeste da Suécia. ;A nuvem já chegou à Escócia e à Irlanda do Norte;, explicou Brian Flynn, chefe de operações do órgão, à agência France-Presse. As autoridades alemãs de segurança aérea anunciaram o fechamento dos aeroportos do norte da Alemanha a partir das 5h local (zero hora em Brasília) de hoje. Ontem, a coluna de cinzas se concentrava sobre a região norte do Reino Unido e, no dia anterior, obrigou o presidente norte-americano, Barack Obama, a antecipar sua saída da Irlanda rumo a Londres.
A Comissão Europeia (CE) previu uma semana difícil para os europeus que viajarem de avião, mas anunciou que não estava pressuposto o fechamento de uma grande área do espaço aéreo. Apesar do incômodo para os passageiros impedidos de se deslocar, a situação criada pela erupção do Grimsv;tn não se compara com a do Eyjafjallaj;kull, que em abril do ano passado interrompeu o tráfego aéreo na Europa por uma semana. Na ocasião, a normalidade dos voos levou pelo menos um mês para ser restabelecida e os prejuízos para a União Europeia oscilaram entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões.
Segurança
A geóloga portuguesa Teresa de Jesus Lopes Ferreira, coordenadora do Observatório Vulcanológico e Sismológico da Universidade dos Açores (Portugal), que auxilia no monitoramento das atividades vulcânicas na Europa, afirmou ao Correio que a sociedade está mais apta a lidar com os problemas causados pelas cinzas vulcânicas ao espaço aéreo. ;Tem havido uma resposta bastante adequada por parte de todos em reorganizar suas vidas diante da possibilidade de a Europa ficar com seu espaço aéreo contaminado;, disse.
Um aspecto importante que a geóloga destaca na comparação entre as situações do ano passado e deste ano é que, diferentemente do que foi feito antes, as aeronaves podem voar mesmo que haja um nível baixo de contaminação do ar. Mas, para isso, precisam apresentar um plano de segurança para o voo, caso surjam problemas. ;Antes, bastava que houvesse alguma contaminação que já não era recomendado que as aeronaves voassem nessas áreas;, ponderou.
O contato das partículas expelidas pelo vulcão com as turbinas pode causar danos às aeronaves. Em pelo menos quatro episódios no passado, situações como essa levaram ao desligamento dos motores e por pouco não provocaram tragédias. Teresa esclareceu que o vulcão Eyjafjallaj;kull tinha características diferentes das do Grimsv;tn. O primeiro, por conta do contato da água derretida da sua superfície com o magma, apresentava uma erupção mais explosiva e, por isso, sua coluna de cinzas alcançava maiores altitudes. O fenômeno não ocorre com o segundo.
Uma informação animadora da Agência de Meteorologia Islandesa apontou que a nuvem de cinzas continuou diminuindo durante a madrugada de ontem. A agência também estimou que a erupção poderia terminar antes do fim de semana. ;Já não é perigoso para o tráfego aéreo. O único perigo agora vem das cinzas velhas;, destacou o porta-voz das autoridades islandesas Thorir Hrafnsson, à France-Presse.