Com um discreto sinal de comprometimento, Benjamin Netanyahu apresentou ontem sua visão sobre o processo de paz no Oriente Médio, em um discurso cuidadosamente medido para arregimentar o apoio dos Estados Unidos e fazer campanha contra os planos dos palestinos de levar o reconhecimento de seu Estado soberano a votação na na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em setembro. Aplaudido com estridência pelo Congresso dos EUA, Netanyahu disse que estaria disposto a assumir ;compromissos dolorosos; para colocar fim no conflito, mas garantiu que Jerusalém não será dividida. A Autoridade Palestina (AP) reagiu prontamente, reafirmando que só lhe restou a opção de colocar a questão na ONU. Na batalha diplomática que se desenha nos próximos meses, o trunfo decisivo será o apoio da Europa, onde o reconhecimento da Palestina começa a ser discutido.
Falando em tom direto e mostrando-se à vontade, diante de uma plateia claramente pró-israelense,o premiê israelense agradeceu o apoio dos EUA e reafirmou que seu governo ;luta pela paz;. ;Os acordos entre Israel, Egito e Jordânia são vitais, mas não suficientes. Temos de encontrar uma forma para forjar a paz duradoura com os palestinos. Estou disposto a assumir compromissos dolorosos. Como líder de Israel, é minha responsabilidade guiar meu povo no caminho da paz;, declarou. ;Não é fácil para mim, porque reconheço que a verdadeira paz exigirá a renúncia a partes da terra ancestral dos judeus;, completou.
A decisão dos palestinos de pedir uma votação na Assembleia Geral sobre o reconhecimento do seu Estado, baseado nas fronteiras de 1967 ; que inclui a maior parte da Cisjordânia, o setor oriental de Jerusalém e a Faixa de Gaza ;, tornou-se elemento chave da disputa territorial. Se a iniciativa for bem-sucedida, Israel pode enfrentar pressões internacionais e ficar isolado no cenário internacional. ;A tentativa palestina de impor um acordo pelas Nações Unidas não vai trazer a paz, e deveria ser rejeitada energicamente por todos aqueles que queiram ver o fim do conflito;, advertiu Netanyahu.
Em resposta, os palestinos reiteraram a decisão de submeter o reconhecimento de seu Estado à Assembleia Geral. ;Após o discurso de Netanyahu, os palestinos não têm escolha senão ir à ONU;, afirmou Mohammad Chtayyeh, negociador da ANP. Com o apoio de grande parte dos governos latino-americanos, eles agora precisam garantir o respaldo da União Europeia. Por enquanto, apenas a França sinalizou, timidamente, uma disposição a aprovar a soberania palestina. ;Não há mais chances para negociações, portanto a votação deve ocorrer. Existe uma possibilidade remota de que isso leve pânico aos israelenses e eles coloquem algumas propostas à mesa, para manter um compromisso real. No entanto, mais provável é que o processo de paz esteja acabado;, disse ao Correio James Gelvin, professor do Departamento de História da Universidade da Califórnia
Desafio a Abbas
Para o premiê israelense, um acordo de paz ainda não foi possível porque os palestinos ;não querem aceitar; um Estado israelense. ;O presidente (Mahmud) Abbas (da ANP) precisa fazer o que eu fiz. Eu me coloquei diante do meu povo, e devo dizer que não foi fáci, e disse: ;Eu aceito um Estado palestino;. É hora de o presidente Abbas dizer: ;Eu aceito um Estado judeu;. Essas cinco palavras podem mudar a história;, desafiou Netanyahu. Ele rejeitou negociações com o Hamas, ao qual se referiu como ;a versão palestina da Al-Qaeda;. Uma vez mais, o governante israelense rechaçou a fórmula sugerida pelo presidente dos EUA, Barack Obama, de que Israel e a Palestina se estabeleçam nas fronteiras anteriores à guerra de 1967.
De acordo com especialista americano, o discurso de Netanyahu foi ;vazio e cínico; em relação às negociações. ;Ele disse que faria compromissos, mas depois declarou o oposto. Estipulou que o retorno dos refugiados palestinos e a divisão de Jerusalém estão fora de questão, que as fronteiras de 1967 são indefensáveis, que não negociará com o Hamas e que militares israelenses teriam presença permanente no vale do Jordão. O que sobrou para negociar? Netanyahu parece querer reafirmar que não há espaço para diálogo e quer que eles sejam os culpados;, afirmou Gelvin.
Protesto aplaudido
Enquanto discursava perante as duas casas do Congresso, em Washington, Benjamin Netanyahu foi surpreendido quando uma manifestante, que estava sentada entre o público, gritou: ;Chega de ocupação;. A mulher, contrária à política israelense para os territórios palestinos, carregava uma bandeira vermelha e foi levada para fora do plenário da Câmara pelos agentes de segurança, em poucos segundos. O primeiro-ministro israelense tentou contornar o incidente e declarou que considerava uma honra o fato de o povo ter direito a se manifestar nos EUA ; o que, afirmou, não aconteceria em ;parlamentos ridículos como os de Teerã (Irã) ou Trípoli (Líbia);.