Sanaa - O presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, colocava obstáculos neste domingo para a assinatura de um acordo que prevê a transição pacífica do regime, apesar da pressão internacional e do aviso da oposição de que a pressão das ruas o expulsará do poder caso o acordo não seja assinado.
Nas ruas, partidários do chefe de Estado, armados com paus, bloquearam as principais vias da capital que levam ao palácio presidencial, onde deve acontecer a cerimônia de assinatura do acordo na presença de um emissário do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).
Os partidários de Saleh, que exibiam retratos de seu líder, também bloquearam com pedras a estrada que leva ao aeroporto, assim como a via que culmina na Praça Tahrir, no centro de Sanaa, onde está situada a sede do governo.
Por sua vez, os opositores do regime se concentraram na Praça da Mudança, epicentro da contestação em Sanaa, no que se tornou a maior manifestação que a capital já conheceu para pedir a saída imediata do presidente, segundo um correspondente da AFP.
O chefe de Estado deve assinar neste domingo o acordo elaborado pelas monarquias árabes do Golfo, que prevê a saída de Saleh no prazo de um mês.
A oposição assinou o acordo no sábado, mas neste domingo Saleh exigiu que seus adversários assinem junto com ele o acordo de transição, pondo assim um novo obstáculo ao plano de saída da crise.
"A cerimônia de assinatura do acordo deve ser realizada no palácio presidencial na presença de todas as partes políticas interessadas", afirmou um comunicado do partido presidencial, o Congresso Popular Geral (CPG), publicado neste domingo pela agência oficial SABA.
A assinatura foi realizada na casa de um líder da oposição, que se negou a ir ao palácio presidencial. A imprensa não foi convidada à cerimônia. "A assinatura, a portas fechadas, não pode ser reconhecida, e reflete as duvidosas intenções sobre esta iniciativa" do CCG, acrescenta o comunicado.
Em declarações à AFP, o porta-voz do Fórum Comum (oposição parlamentar) Mohamed Qahtan, reiterou a negativa da oposição de se deslocar ao palácio presidencial. "A revolta vai se intensificar" e Saleh "acabará expulso do poder" e "humilhado", caso se negue a assinar o acordo, advertiu Qahtan.
O Iêmen vive desde o fim de janeiro um movimento de contestação popular contra o regime sem precedentes que pede a saída de Saleh, no poder há 33 anos, acusado de nepotismo e corrupção. A repressão da revolta custou a vida de 180 pessoas, segundo um balanço da AFP.
Saleh já rejeitou no último minuto assinar o acordo na quarta-feira, segundo a oposição, que assegura que o CCG "deu o prazo de domingo até o meio-dia para Saleh assinar o acordo".
Um responsável deste organismo assegurou que o secretário do CCG, Abdelatif Zayani, deve "regressar a Riad com o documento assinado para submetê-lo a uma reunião extraordinária dos chefes das diplomacias" dos países do Golfo que será realizada na noite deste domingo.
O plano, elaborado com ajuda dos Estados Unidos e da União Europeia, prevê a formação de um governo de reconciliação, com participação da oposição, a renúncia um mês mais tarde de Saleh, em troca de imunidade para ele e pessoas próximas, e a realização de eleições presidenciais em 60 dias.