Os países emergentes estão cotados para comandar o Fundo Monetário Internacional (FMI), abalado com a prisão de seu diretor-gerente, o economista e ex-ministro francês das Finanças Dominique Strauss-Kahn, acusado de tentar violentar uma camareira de hotel em Nova York. O meio eletrônico em língua francesa Slate.fr, associado ao site norte-americano de mesmo nome, porém com direção própria, revelou ontem que a acusadora de DSK, como é conhecido, seria uma imigrante (legal) de 32 anos, muçulmana e originária da Guiné, na África Ocidental. A defesa, segundo o jornal New York Post, alega que o economista tentou manter relações com a camareira, mas com o consentimento dela.
No início da noite, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timithy Geithner, disse que é ;evidente; que Strauss-Kahn ;não está em posição; de continuar à frente do Fundo. Na Europa, em meio à crise financeira, os ministros de finanças da União Europeia (UE), que tratam de articular um nome do bloco. As bolsas do continente desabaram, com destaque para a de Frankfurt, que perdeu 1,77%. A de Paris caiu 1,21% e a de Londres, 1,06%.
Com a crise financeira global iniciada em 2008, as nações em desenvolvimento aumentaram suas quotas e ganharam voz dentro do organismo multilateral, que por várias décadas ditou regras aos países subdesenvolvidos para que obtivesssem empréstimos. O maior diário econômico dos Estados Unidos, o Wall Street Journal, publicou artigo defendendo que um economista de um país emergente substitua DSK. Fontes ligadas ao FMI ouvidas pela agência Reuters reconheceram que o Fundo deveria ser comandado por um país emergente, e sugeriram que Brasil e Índia seriam as melhores opções.
Desde a sua criação, após a Segunda Guerra Mundial, o FMI é comandado por um economista europeu. Com as mudanças recentes, promovidas por Strauss-Kahn, a participação dos emergentes cresceu e sua cota representa agora 42,3% dos US$ 340 bilhões aplicados no Fundo. Conforme dados da última reforma, de 2010, as nações em desenvolvimento possuem 44,7% do poder de voto, enquanto a UE detém 29,4%.
Brasileiros
Nos últimos anos, o governo brasileiro vem defendendo a ampliação da representação dos emergentes nos organismos multilaterais. Até há pouco tempo, o Brasil figurava na 18; posição entre os cotistas do Fundo. Com a reforma de 2008, está na 14; colocação e hoje é credor do órgão. Quando a reforma de 2010 entrar em vigor, será o 10; maior acionista, com 2,3% da quota e 2,218% do poder de voto. No entanto, o Planalto não chegou a cogitar um nome para uma potencial candidatura. O Itamaraty informou que ainda é prematuro comentar o assunto.
O analista de economia internacional Steven Dunaway, do respeitado Conselho de Relações Exteriores, com sede em Washington, aponta o nome de dois brasileiros: Armínio Fraga e Pedro Malan. Fraga é o favorito do ex-vice-diretor do Departamento de Ásia e Pacífico do FMI. ;Mas ambos precisariam ser convencidos a aceitar a missão;, disse. Fraga, por sua vez, negou ser candidato.
;A regra das últimas décadas está invertida. Hoje, o Fundo está voltado para salvar os países do centro, não mais os da periferia;, comentou o professor Rodrigo Cintra, chefe do Departamento de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Para ele, dificilmente a UE abrirá mão do comando do FMI, especialmente porque está cada vez mais dependente dele. Irlanda, Grécia, Polônia e Portugal já foram socorridos pelo órgão. ;O importante agora seria que um país neutro comandasse, pois o Fundo terá de ditar as regras para os países ricos da Europa da forma inflexível como sempre fez com as economias mais pobres;, recordou Cintra.