Os tanques entraram atirando no bairro de Bab Amr, em Homs, cidade a oeste de Damasco. Mona (nome fictício) acordou às 5h de ontem com a sensação de que a quarta-feira seria sangrenta. ;Escutei explosões que duraram até cerca de 8h. Às 10h, fui para a universidade.
Enquanto franco-atiradores se posicionavam sobre as casas, os soldados e os shabeeha (agentes da inteligência) invadiam as residências, roubavam o dinheiro dos moradores e destruíam objetos;, relatou a professora síria ao Correio, sob a condição de anonimato.
;Quando eu estava perto da universidade, começou um tiroteio a partir do telhado. Corri para a parede e ali fiquei por uns 20 minutos, foi horrível;, acrescentou. Por volta das 17h (hora de Brasília), Mona interrompeu a entrevista com as seguintes palavras: ;Os tiroteios começaram! Outra explosão agora!”. De acordo com o sírio Ammar Qurabi, presidente da Organização Nacional dos Direitos Humanos, cinco pessoas foram assassinadas na cidade.
A cerca de 2,1 mil quilômetros de Homs, o estudante de economia Ala;a Jarban, de 21 anos, participou de um protesto em Sanaa, capital do Iêmen. ;Marchávamos em direção ao gabinete do primeiro-ministro Ali Mohammed Megawar, quando forças de segurança nos atacaram com armas pesadas e munição real;, relatou à reportagem. O iemenita acusou o governo de usar agentes à paisana em uma armadilha contra os manifestantes.
;Eles atiraram contra nós a partir de ruas e de prédios, sequestraram mulheres e ativistas;, denunciou Ala;a, que não teme divulgar o nome. Ele contou ter visto Ibrahim Ahmed Saif, um dos opositores ao governo, morrer no hospital de campanha, após ser baleado. O ato político contou com a presença de várias mulheres, que prepararam flores brancas para entregá-las aos soldados. A agência de notícias Reuters informou que seis pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas.
Em Taez, 250km ao sul, dois manifestantes também foram executados pelas tropas. ;Nós começamos a marchar de forma pacífica. De repente, elas atiraram contra nós e balearam dois homens na cabeça;, disse outro ativista. Por telefone, o médico iemenita Abdulrahim Al-Samee confirmou ao Correio que um manifestante morreu em Taez e dois foram diagnosticados com morte cerebral. ;Outras 47 pessoas ficaram feridas e 150 sofreram sufocamento por gás lacrimogêneo ou por gás venenosa;, explicou. De acordo com o funcionário do hospital de campanha, a marcha ocorreu na Rua Jamal. ;Os opositores a Saleh pretendiam fechar alguns escritórios do governo e atearam fogo a uma delegacia;, afirmou. Na cidade portuária de Hudaida, às margens do Mar Vermelho, um manifestante também foi assassinado.
Milhares de sírios e iemenitas exigem a destituição dos presidentes Bashar Al-Assad e Ali Abdullah Saleh, respectivamente. Com as 28 mortes de ontem ; 19 na Síria e nove no Iêmen ;, a pressão internacional por reformas políticas ou mesmo pela troca do governo deve aumentar nos próximos dias. Além dos cinco mortos em Homs, tanques sírios destruíram casas em Al-Harra, a oeste da cidade de Deraa, matando 11 moradores.
Outras duas pessoas foram atingidas por franco-atiradores. Em Jassem, subúrbio de Deraa, uma pessoa acabou morta. Desde março passado, a violenta repressão do regime de Al-Assad custou 776 vidas, de acordo com a Organização Nacional dos Direitos Humanos. O número de opositores presos passa de 9 mil. Segundo a rede de TV CNN, muitos sírios tentam fugir em direção ao Líbano. ;Eu prefiro viver pobre e como refugiado no Líbano, com meus seis filhos e minha mulher, a assassinar inocentes na Síria;, declarou à emissora um desertor do exército, que tentava atravessar a fronteira com a família.
A agência estatal de notícias Syrian Arab News Agency (Sana) admitiu ontem que as forças de segurança acionaram sua ;luta contra grupos terroristas; em Homs e em Deraa. O governo também informou que dois soldados morreram e cinco tiveram ferimentos nos supostos combates. Ainda segundo a Sana, o premiê Adel Safar anunciou a criação de uma comissão responsável por redigir uma nova lei eleitoral que respeite ;os critérios internacionais;. ;A comissão precisará terminar seus trabalhos nas poróximas duas semanas;, acrescentou a agência. No campo diplomático, a Síria retirou oficialmente ontem a candidatura para ocupar uma vaga no Conselho de Direitos Humanos da ONU. O posto foi ocupado pelo Kuweit.