A rede terrorista Al-Qaeda tinha acabado de humilhar a nação mais poderosa do planeta. No fim de 2001, Osama bin Laden esteve prestes a ser capturado nas montanhas de Tora Bora, no Afeganistão. Com o fracasso da missão, os então presidentes George W. Bush (EUA) e Pervez Musharraf (Paquistão) assinaram um acordo secreto que autorizava as forças norte-americanas a matar o extremista em território paquistanês.
;Havia um pacto segundo o qual, se soubéssemos onde Osama estava, entraríamos lá e o pegaríamos;, revelou um ex-alto oficial de contraterrorismo ao The Guardian. ;Os paquistaneses não nos deteriam.; A denúncia coincide com o agravamento das tensões entre os aliados. Musharraf e o atual premiê Yousaf Raza Gilani acusaram Washington de violar a soberania do Paquistão. Para o ex-oficial consultado pelo jornal britânico, a indignação de Islamabad era esperada. ;Eles (paquistaneses) apenas implementaram o acordo;, assegurou.
O francês Jean-Charles Brisard ; advogado das famílias de vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001 ; afirmou ao Correio que o Paquistão avalizou, mesmo implicitamente, os ataques de aviões espiões americanos dentro do país. ;A polêmica surgiu agora por causa da duplicidade de Islamabad em relação a Bin Laden e ao óbvio fato de que o comando militar paquistanês sabia do paradeiro do terrorista havia anos;, comentou.
Para o especialista em Al-Qaeda, Islamabad fez vista grossa por temer retaliações de grupos fundamentalistas sunitas e da rede terrorista. Brisard acredita que o Paquistão hospede o núcleo remanescente da organização. ;Como a guerra ao terror se concentra no país, os EUA creem que suas ofensivas no Paquistão são legítimas;, sustenta o francês. ;Combater o terrorismo também significa superar suas duplicidades e cumplicidades.;
O ministro do Interior paquistanês, Rehman Malik, garantiu ontem que as autoridades americanas terão acesso às três viúvas de Bin Laden para interrogatório. Mas não especificou a data ou o local do depoimento. Ao revelar a identidade de um homem apresentado como chefe da Agência Central de Inteligência (CIA) no Paquistão, o governo de Islamabad se indispôs ainda mais com os EUA. Ontem, aviões espiões não tripulados norte-americanos lançaram mísseis contra o noroeste do país e mataram quatro insurgentes islâmicos.
Ao mesmo tempo, Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, assegurou que houve ;avanços; para a obtenção de informações de Islamabad sobre o líder da Al-Qaeda. ;Continuamos trabalhando com o Paquistão para termos acesso a qualquer informação que possa contribuir com nosso objetivo comum de manter nossa cooperação antiterrorista (;) e estamos otimistas;, declarou.
Lágrimas de sangue
Um comunicado da Al-Qaeda publicado pelo Al-Fajr Media Center, o site de propagandas da rede, avisa que os americanos pagarão ;o preço; pela morte de Bin Laden. ;(Barack) Obama espalhou o sangue de nosso mártir. Somos uma Uma (nação islâmica), que não fica silenciosa ante a injustiça. Não nos culpem. Vocês escolheram isso e pagarão o preço. Obama está protegido por exércitos, mas quem o protegerá de nosso ataque?;, adverte. ;É preciso vingar o assassinato do xeque da jihad (guerra santa) e do Leão do islã, de uma forma que fará os EUA esquecerem o prazer de sua felicidade e que fará com que chorem sangue;, acrescenta o texto.
A Al-Qaeda autorizou os militantes a atacarem sem ordem prévia. ;Dizemos a qualquer mujahedin (combatente): se tiver a oportunidade, aproveite-a. Não consulte ninguém para matar americanos ou destruir sua economia. A terra de Alá é vasta e seus alvos estão em todas as partes.; Mais cedo, um vídeo da rede acusava Obama de ter exibido imagens falsas de Bin Laden. Nas cenas, Osama aparece envelhecido diante da TV. ;É preciso ficar atento: os EUA mentem;, alertou o site Shumul Al-Islam, que apontou diferenças entre as orelhas e os olhos de Bin Laden e do homem que aparece nas imagens.
Filhos do saudita querem processar presidente
Os filhos de Osama bin Laden ameaçaram levar o presidente norte-americano, Barack Obama, à Justiça como ;responsável; pelo destino de seu pai, morto em 2 de maio. Uma mensagem assinada por Omar bin Osama bin Laden e divulgada pelo centro de vigilância de sites islamitas SITE considera ;inaceitável; e ;humilhante; que o corpo tenha sido lançado ao mar. ;Consideramos o presidente Obama em pessoa legalmente responsável pelo destino de nosso pai, Osama bin Laden;, indica o texto. ;É humana e religiosamente inaceitável ver uma pessoa desse nível e dessa importância para seus parentes ter seu corpo lançando ao mar de uma forma humilhante;, acrescentou.