Milão - O chefe de Governo italiano, Silvio Berlusconi, compareceu nesta segunda-feira (9/5), em plena controvérsia sobre a justiça italiana, a um tribunal de Milão para a primeira audiência sobre suborno pago ao renomado advogado britânico David Mills.
Berlusconi, 74 anos, foi recebido por um grupo de defensores da justiça italiana, entre eles o advogado Pietro Palau Giovannetti, presidente do Movimento pela Justiça Robin Hood, num momento de muita tensão.
Esta é a primeira vez que o premier italiano comparece a uma audiência do processo em que está sendo julgado por corrupção de uma testemunha.
Os defensores da justiça exibiam faixas e flores por ocasião da Jornada em Memória das Vítimas do Terrorismo e dos 26 magistrados que perderam a vida em ataques terroristas ou atentados da máfia nos últimos 40 anos.
Diante do palácio de justiça foram colocadas fotografias gigantes de juízes assassinados pelo crime organizado. Uma faixa afirmava: "Obrigado aos magistrados e aos policiais que perderam suas vidas para nos proteger das Brigadas Vermelhas e de outros perigos".
Berlusconi voltou a repetir à imprensa que os magistrados são "o câncer" da justiça italiana e os acusou de estimular uma "guerra civil".
Ele disse que acusa sobretudo os promotores de usar a justiça para fins políticos, em particular contra sua liderança.
O presidente da Associação Nacional de Magistrados, Luca Palamara, condenou as declarações de Berlusconi, que considerou "graves e inaceitáveis".
Para o ex-chefe do Ministério Público de Milão, Francesco Saverio Borelli, qualificar os promotores de "câncer" e "metástase" constitui um comentário "vulgar de baixo nível", enquanto Rosy Bindi, líder da oposição de esquerda, estima que Berlusconi sofre de uma verdadeira "patologia" em relação à justiça.
Por sua vez, o presidente da República, Giorgio Napolitano, pediu o fim da polêmica e advertiu que "antes de pensar em uma reforma da Justiça é preciso homenagear os magistrados".
Berlusconi, que aceitou assistir nesta segunda-feira aos vários processos contra ele, compareceu na semana passada a uma audência do caso Mediatrade, no qual é acusado de fraude e abuso de confiança na venda de direitos para a televisão.
Neste processo, a promotoria acusa Berlusconi de ter subornado, com uma transferência de 600.000 dólares efetuada em 1997 pela Fininvest, a holding da família, o advogado David Mills para que prestasse falsos testemunhos em dois julgamentos no fim dos anos 90 contra o magnata.
Berlusconi afirmou não se lembrar de conhecer Mills, porque ele era um dos muitos advogados contratados pelo grupo Fininvest no exterior. Também disse que os 600.000 dólares correspondem ao pagamento efetuado por um armador italiano para evitar o fisco britânico.
Mills foi condenado em um julgamento separado, em primeira e segunda instâncias, por corrupção em ato judicial a favor de Berlusconi, mas não cumpre pena porque o delito prescreveu.
Berlusconi, que evitou comparecer ante aos juízes por oito anos, também deve apresentar-se pelo caso "Ruby", o mais complicado para ele, no qual é acusado de prostituição de menor de idade.