Brasília ; A morte do líder e fundador da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, pode transformá-lo em mito, gerar uma disputa pelo comando da liderança deixada por ele e, sobretudo, acirrar o impasse envolvendo o combate ao terrorismo no mundo, afirmam especialistas. Para eles, há espaço também para o Brasil se posicionar neste debate internacional em defesa do antiterrorismo e da busca por acordos pacíficos e sem uso de ações que contrariem os direitos humanos, como a tortura.
A análise é de especialistas em relações internacionais ouvidos nesta sexta-feira (6/5) pelo programa Revista Brasil, da Rádio Nacional. Participaram do programa os professores Nilton César Flores, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Carlos Eduardo Vidigal, da Universidade de Brasília (UnB), além do especialista em relações internacionais, José Luiz Niemeyer.
Bin Laden foi morto no último domingo (1;) por militares das forças especiais norte-americanas, em uma mansão onde vivia com a família, a 100 quilômetros de Islamabad, capital do Paquistão. O corpo do líder foi lançado ao mar, mas as autoridades dos Estados Unidos asseguram que exames de DNA confirmam a identidade do fundador da Al Qaeda. Desde então há manifestações favoráveis e contrárias à operação conduzida pelo presidente norte-americano, Barack Obama.
Niemeyer destacou que o momento é de os países se posicionarem sobre o combate ao terrorismo. No caso do Brasil, é a oportunidade de se integrar no debate internacional. ;O Brasil tem que observar essa situação e buscar brechas para defender sua agenda, que é, talvez, diferente da agenda norte-americana ou internacional;, disse.
Na política externa, o governo brasileiro costuma reiterar sua defesa pela consolidação dos direitos humanos e dos instrumentos democráticos. Para Niemeyer, a inserção do Brasil no debate sobre o terrorismo pode gerar avanços nos campos ;comerciais, técnicos e econômicos;. ;Talvez uma diferença [neste momento] seja que o governo Dilma tenha uma agenda um pouco menos ideológica, mas isso também não se pode concluir, está muito no inicio do governo.;
Para o professor da UnB, a tendência atual é a de construir um mito em torno de Bin Laden. ;É difícil imaginarmos se o resultado seria negativo ou positivo, mas é provável que nós tenhamos a construção de um mito em torno de Bin Laden que terá ecos para as próximas décadas;, afirmou Vidigal.
O professor da UFF alertou que associada à imagem de mito de Bin Laden é necessário discutir a operação que levou à morte dele, envolvendo tortura e execução de um homem que estava desarmado.
;Eu poderia dizer também sobre como foram obtidas as provas para identificar o Osama, foram provas obtidas mediante tortura, é outro aspecto que gera polêmica, e a forma de execução. São muitas questões jurídicas sobre esse caso. Mas uma coisa é discutir isso em sala de aula, e a outra coisa é ser um fato real;, afirmou Flores.
Segundo ele, é importante que a comunidade internacional compreenda e trate o terrorismo como um ;problema mundial;. ;No final todos querem combater o terrorismo;, disse. ;A força do Estado acaba prevalecendo para tentar legitimar essas ações.;
Niemeyer acrescentou ainda que um dos primeiros efeitos da morte de Bin Laden já observados foi no cenário da política interna dos Estados Unidos. O especialista lembrou que o momento no país é delicado por causa da crise econômica e do agravamento do desemprego.
;A morte de Osama traz uma esperança ao povo norte-americano, mas a médio e longo prazo vai esquecer dentro das contradições internas que existem dentro dos Estados Unidos, principalmente nas ações de geração de emprego e renda, além da crise econômica;, disse. ;A recuperação da economia norte-americana não está ocorrendo, a geração de emprego em alguns lugares está muito lenta, então não acho que seja um elemento que garanta a reeleição de Obama.;
O professor da UFF ressaltou que ainda há um longo processo a percorrer até o dia da eleição presidencial norte-americana, em novembro de 2012. ;Não tem como avaliar agora dizer que esse fato vai per perdurar até o dia da eleição porque eleição só se ganha no dia que sai o resultado. Agora, o fato de a comunidade internacional condenar o ato tem de ser visto sob outro ponto, porque o nosso pensamento não é o pensamento dos norte-americanos.;