João Paulo II conduziu a Igreja Católica por quase 27 anos, e seu papado ficou marcado pelo carisma com que interagia com os fiéis. Foi o primeiro papa a visitar o Brasil e, nas três ocasiões, multidões se reuniram para assistir às missas ou apenas ver um aceno e receber uma bênção. A popularidade do pontífice conseguiu reunir, no Distrito Federal, 800 mil pessoas na missa campal celebrada em 30 de junho de 1980, no gramado em frente à Catedral ; a maior multidão da história da cidade, até então, segundo a Arquidiocese de Brasília. Onze anos mais tarde, na manhã de 15 de outubro de 1991, 600 mil pessoas se aglomeravam no mesmo local para mais uma celebração do papa, animada por um coral de 500 vozes formado por fiéis de todo o DF.
Pouco mais de três décadas depois da primeira visita, brasileiros que não mediram esforços para vê-lo de perto acompanham com fé e emoção o processo de beatificação de João Paulo II. O momento é de muita alegria para católicos como a dona de casa Maria de Jesus Lira Silva, que em 1980 participou da celebração conduzida pelo papa na Esplanada dos Ministérios, ao lado de uma vizinha e um grupo da Paróquia Senhor do Bom Jesus, a igreja que ela frequenta, em Ceilândia. Aquela missa é lembrada com muito carinho por Maria de Jesus, que pediu um outro filho no momento da pregação, prometendo dar a ele o nome de João Paulo. ;Eu já tinha 43 anos e pensava que não daria mais para engravidar;, afirma. Meses depois, ela descobriu que esperava o filho, hoje doutorando em odontologia em Piracicaba (SP). ;Eu nem acreditei, mas fiquei pensando que foi aquilo que eu falei;, diz.
A religiosidade já era marca na família, que tem três padres. Segundo Maria de Jesus, essa é também uma das fortes características do filho João Paulo. E o papa beatificado hoje é tido como uma ligação entre mãe e filho. ;Eu tenho tanta fé; Todo dia rezo e entrego meu filho nas mãos de Deus, em primeiro lugar, e nas mãos dele (João Paulo II), para que seja guia do meu filho;, diz a fiel, que é devota de Nossa Senhora.
A admiração por João Paulo II também levou a família da funcionária pública Elza Cardoso Magalhães às ruas de Brasília para ver o papa, nas duas vezes em que o pontífice esteve na capital. O irmão dela, hoje falecido, veio de Minas Gerais para acompanhar a visita. ;Ele desembestava (sic) na multidão e a gente saía correndo atrás, para não se perder. Ele parava em todos os camelôs comprando lembranças. Nós corremos o Eixão todo para conseguir chegar perto;, conta.
Hoje, a lembrança que Elza tem do papa é exibida como um prêmio na sala de casa. Uma bênção apostólica enviada do Vaticano para ela, a irmã e um sobrinho, em 1994 ; presente solicitado pelo pároco da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe. A funcionária pública, que acompanha pelo rádio o processo de beatificação, lembra de João Paulo II como um verdadeiro santo. ;Ele aproximou muitos fiéis, porque tinha um carisma e tanto. Era muito generoso, aproximou muitos povos, abriu muito a religião católica para o entendimento das pessoas. Tinha a capacidade de unir as pessoas, de aguentar o sofrimento com muita tranquilidade. Eu oro muito por ele.;