Roma - O turco Mehmed Ali Agca tinha apenas 23 anos quando tentou matar João Paulo II no dia 13 de maio de 1981, mas já levava uma morte nas costas, o assassinato de um jornalista em seu país de origem.
Quase conseguiu matar, também, o Papa, acertando três tiros quando o Santo Padre atravessava a Praça São Pedro do Vaticano, em meio à multidão.
Alguns meses depois, Agca, foi condenado à prisão perpétua e levado para o presídio Montacuto de Ancona. João Paulo II o perdoou ainda no leito do hospital, onde se recuperava dos graves ferimentos do atentado, e o visitou na prisão no dia 28 de dezembro de 1983. O Papa também recebeu a mãe do terrorista em 1985 no Vaticano.
Em março de 1999, Agca escreveu ao embaixador da Turquia em Roma para dizer que tinha saudades da sua terra e queria cumprir a pena pelo assassinato do jornalista.
Nascido em 1958, de uma família muito pobre de Hekimhan, província de Malatya (Leste da Turquia), Ali Agca estudou na faculdade de Ciências Econômicas de Istambul, onde começou a se relacionar com integrantes do extrema-direita nacionalista. Militou na organização de jovens chamada "Os idealistas", próxima ao Partido de Ação Nacionalista, cujo chefe, o ex-coronel Aspalan Turques, foi preso no momento do atentado da Praça de São Pedro.
Segundo Anna Maria Turi, que redigiu a autobiografia de Ali Agca, "Minha Verdade", publicada em 1996, ele estava mais dominado pela idéia de suicídio e de fuga do que pelo assassinato do Papa antes do atentado de 1981. Entretanto, não é o que mostram os relatos pregressos sobre o ex-membro do movimento radical turco "Lobos Cinzentos".
Ali Agca já havia sido preso na Turquia, no dia 25 de junho de 1979, acusado do assassinato de Abdi Ipecki, chefe de redação do jornal Milliyet.
Durante o interrogatório, deu a impressão de que era um homem determinado, de sangue frio. "Não sou nem de direita nem de esquerda. Sou um terrorista independente", disse na época.
Antes do julgamento, escapou da prisão, no dia 25 de novembro. Foi condenado à revelia. Depois de fugir, telefonou e escreveu várias vezes à imprensa para afirmar que seu único objetivo era "matar o cruzado João Paulo II", que deveria visitar a Turquia em três dias. Não conseguiu atentar contra a vida do Papa na ocasião. Deixou o país e esteve na Líbia, em 1980, antes de viajar a Roma, onde chegou bem perto de concretizar sua intenção.