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Presidente sírio Bachar al-Assad defende o poder com todas as forças

Damasco - O presidente sírio Bachar al-Assad é um autocrata pronto para defender com toda a garra seu poder, usando de brutalidade para esmagar qualquer contestação, mesmo se prefira aparecer como um reformista contrariado pelos conservadores de seu clã.

Este médico, de 45 anos, enviou o exército com os seus tanques para dominar a revolta em Deraa no sul do país. Suas tropas abriram fogo em várias cidades, fazendo 390 mortos desde o dia 15 de março, segundo números compilados pela AFP, a partir de Ongs estrangeiras e ativistas sírios.

Este homem ousado, de olhos azuis, usando um fino bigode, está convencido de ter respondido às demandas do povo, ao anunciar várias reformas, entre elas o levantamento da lei de emergência. O prosseguimento da contestação, no entanto, tem como objetivo, a partir de agora, ver sua própria queda e eliminar sua comunidade minoritária: os alauítas, no poder há 50 anos.

Bachar al-Assad chegou ao poder em julho de 2000, um mês após a morte de seu pai Hafez al-Assad, e adotou a mesma atitude: impiedoso no plano interno e, ao mesmo tempo, muito paciente, sabendo esperar o fim da tempestade.

"Mesmo em situações complicadas, mantém a calma. Acho que tem muito sangue frio", disse à AFP um de seus amigos.

Bachar al-Assad não era destinado à sucessão do pai, após ter frequentado a antiga missão laica francesa, fazendo estudos de oftalmologia na Síria, depois na Grã-Bretanha. Foi neste país que ele encontrou sua mulher Asma, com quem teve três filhos - dois rapazes e uma moça.

Mas a morte num acidente de carro de seu irmão mais velho Bassel, em 1994, mudou sua vida. Passou a aprender com o pai o ofício de presidente, num país muito complexo. Subiu de posto no exército, tornando-se coronel e passando a se ocupar de assuntos políticos.

Candidato único à presidência, em 2000, foi nomeado, também, comandante das forças armadas, depois secretário-geral do Baath, tornando-se presidente aos 34 anos.

Dotado de um sólido senso de humor, domina perfeitamente o inglês e fala um pouco de francês. É apaixonado pelas novas tecnologias, o ciclismo e as fotos.

Ao chegar ao poder, começou por injetar uma dose de liberdade, mas alguns meses mais tarde, o movimento de reformas foi sufocado e os líderes da "primavera de Damasco" foram presos.

Em 2003, afirmou que os oponentes haviam "compreendido mal" seus propósitos sobre a democracia.

"Persistindo em qualificá-lo de reformista, a comunidade internacional o encorajou a agir" como faz hoje, explicou à AFP um manifestante.

No plano internacional, Assad conseguiu se impor, nos últimos anos, como um interlocutor na região, após ter sido acusado pelo Ocidente de apoiar o terrorismo e os grupos hostis ao processo de paz.

O assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri em 2005, a retirada militar síria do Líbano, após 29 anos, constituem provas para este presidente acusado por Washington de procurar desestabilizar o Iraque e o Líbano.

Logo que foi colocado em quarentena pelo Ocidente, Assad reforçou suas ligações com a Rússia, a China, a Turquia e o Irã. Mas o presidente francês Nicolas Sarkozy chegou a visitá-lo na Síria, em 2008, e Washington enviou no início do ano um embaixador a Damasco, após seis anos de ausência.