Teerã - As tensões latentes entre os partidários do presidente Mahmoud Ahmadinejad e dos conservadores religiosos tradicionalistas que dividem o poder no Irã tornaram-se evidentes nesta semana, antecipando as disputas pelas legislativas de 2012.
A tentativa de destituição do ministro dos Serviços Secretos, Heydar Moslehi, desencadeou uma série de ataques dos ultraconservadores contra o entorno do presidente.
Um dos principais alvos dessa campanha foi o diretor do gabinete presidencial e principal conselheiro Esfandiar Rahim Mashaie, no centro de diversas polêmicas.
A demissão de Moslehi, próximo ao líder supremo Ali Khamenei, foi anunciada pela imprensa depois que o ministro tentou destituir um funcionário próximo de Mashaie.
O aiatolá Khamenei interveio então para que o ministro permanecesse em seu cargo, em um revés para o governo que os ultraconservadores aproveitaram para atacar a presidência.
Os veículos da imprensa e responsáveis próximos a esse setor concentraram então seus ataques a Mashaie, acusado de dirigir uma "corrente desviacionista" no executivo.
O conselheiro de Ahmadinejad, que os rumores apresentam como seu sucessor, é o inimigo dos religiosos tradicionalistas do regime.
Em 2009, Khamenei já tinha feito intervenções para impedir sua nomeação como primeiro vice-presidente depois de uma violenta campanha dos conservadores.
Estes últimos reprovam suas declarações nacionalistas, exaltando a cultura iraniana pré-islâmica ou defendendo a existência de uma "escola iraniana do Islã", e criticando seu liberalismo sobre questões culturais e de sociedade.
Inclusive e apesar de seus desmentidos, foi acusado de ter declarado em 2008 que o Irã era "amigo do povo israelense".
O aiatolá ultraconservador Mesbah Yazdi, apesar de ser considerado o guia de Ahmadinejad, não vacilou em acusar Mashaie de tentar atacar o Islã.
Ali Akbar Javanfekr, diretor da agência oficial Irna e conselheiro de Ahmadinejad, respondeu afirmando que "esses ataques poderiam voluntaria ou involuntariamente preparar um plano para derrubar" o chefe de Estado.
No sábado, o líder supremo interveio para acalmar a situação, dando seu apoio a Ahmadinejad e ao governo, e pediu aos diferentes grupos que evitassem "as divisões que favorecem os inimigos".
Mas por trás dessa nova polêmica está a campanha legislativa de março de 2012, e mais além a sucessão de Ahmadinejad, que não pode candidatar-se para a reeleição em 2013.
Na ausência de reformistas, reduzidos ao silêncio e marginalizados depois de terem questionado a reeleição de Ahmadinejad em 2009, o controle do poder deverá ficar entre as diferentes correntes conservadoras.
"O presidente e seus colaboradores, entre os quais Mashaie, têm um programa para as legislativas e seguramente derrotarão os conservadores e a direita tradicional", disse o Abbas Amiri-Far, presidente do Conselho da presidência, prevendo "divisões ainda mais profundas".