KIEV - A cada ano, Volodymyr Palkin passa ao menos dois meses no hospital de Kiev. Ele foi uma das centenas de resgatistas enviados para lutar contra o desastre na usina nuclear de Chernobyl, e afirma que sua saúde foi arruinada permanentemente por seu trabalho.
Vinte e cinco anos depois do maior desastre nuclear do mundo, em 26 de abril de 1986, uma enorme controvérsia permanece sobre a verdadeira extensão dos danos causados à saúde, com estimativas variando de dezenas para até 100 mil casos fatais de câncer.
Em torno de 600 mil resgatistas, conhecidos como "liquidators", de Belarus, Rússia e Ucrânia, foram enviados a Chernobyl nos anos posteriores ao desastre, trabalhando em condições arriscadas para limpar as ruínas da usina contaminada. Palkin, atualmente com 69 anos, participou das primeiras operações de emergência. Sentado em sua cama de hospital, ele mostra fotos de seus ex-colegas, que estavam entre as 30 pessoas cuja morte ocorreu algumas semanas depois do acidente.
Ele foi ordenado a trabalhar no dia 26 de abril e foi posteriormente hospitalizado por algumas semanas com hemorragias na garganta e no intestino. Ele diz ter sido ordenado pelas autoridades a registrar apenas metade da quantidade de radiação à qual foi exposto. "Eu tinha uma saúde excelente antes. Mas agora eu mal posso andar, sofro de problemas de tireoide e meus dentes estão se desintegrando", disse Palkin, que desde 1996 passa dois meses por ano no hospital.
Ele reclama de sua pensão - 202 dólares, sendo que a maior parte, ele diz, vai para remédios. Como um "liquidator" certificado, ele também recebe um pagamento mensal de 38 dólares para comida e 50% de desconto nas contas da casa. Palkin divide seu quarto de hospital com Volodymyr Zabolotny, 70 anos, um outro veterano de Chernobyl, que, no entanto, atribui seus problemas de saúde mais à idade avançada do que ao trabalho na zona de desastre.
Organizações, incluindo a de defesa do meio ambiente Greenpeace, alertaram que poderia haver ao menos 100 mil casos de câncer fatais que podem ser diretamente atribuídos a Chernobyl, muitos afetando os "liquidators".
Mas tais conclusões são veementemente contestadas pelo Comitê Científico de Radiação Nuclear (UNSCEAR), cujo último relatório em fevereiro estimou a morte de dezenas de pessoas, e não milhares, devido à tragédia em Chernobyl.
Além dos dois trabalhadores de Chernobyl que foram mortos por uma explosão, e os outros 28, entre técnicos e bombeiros, que morreram devido à radiação logo depois, estima-se que apenas 19 pessoas atingidas pela radiação morreram até 2006, por várias razões, frequentemente dissociadas ao desastre.
O único efeito maior na saúde foram os 6 mil casos de câncer de tireoide registrados em crianças contaminadas por leite radioativo na época, dos quais 15 foram fatais em 2005. O câncer de tireoide é considerado tratável. Para os "liquidators", "além do aumento da incidência de leucemia e catarata entre aqueles que receberam altas doses de radiação, não há evidências que possam atribuir problemas de saúde à exposição", disse a UNSCEAR.
Tais conclusões são politicamente explosivas na Ucrânia, onde grupos de técnicos há muito atribuem suas doenças ao acidente de Chenobyl e criticaram amplamente as autoridades pós-Soviéticas por compensações consideradas insuficientes.
Alguns especialistas afirmam que, possivelmente, o pior legado da tragédia de Chernobyl é mais mental do que físico, com os afetados traumatizados pelos eventos de abril de 1986, quando ocorreram deslocamentos forçados e, acima de tudo, a noção de que foram vítimas de uma catástrofe nuclear.