AJDABIYA - Os rebeldes líbios retrocederam novamente neste domingo (17/4) para o leste de Ajdabiya, ante os disparos de artilharia pesada das forças de Muamar Kadhafi, mas continuavam resistindo aos intensos bombardeios iniciados há semanas em Misrata. No total, os combates nas duas frentes causaram a morte de pelo menos 14 pessoas e ferimentos em 50.
As forças governamentais dispararam neste domingo com artilharia pesada contra a entrada oeste de Ajdabiya (leste), depois que os rebeldes as fizeram retroceder na véspera uns 40 km, constatou a AFP.
Esses disparos de artilharia pareciam indicar que as forças de Kadhafi haviam voltado pelo menos a uns 20 km da cidade, o que levou centenas de rebeldes e habitantes que haviam permanecido na cidade a fugir dela.
Bloqueadas durante longo tempo em torno de Ajdabiya, as tropas insurgentes haviam progredido no sábado até o porto petroleiro de Brega, situado 80 km a oeste, graças aos bombardeios aéreos da Otan. "As tropas de Kadhafi estão bombardeando a entrada oeste. Podemos ouvir disparos dos canhões. Elas estão se aproximando. Por isso, as pessoas estão fugindo", declarou à AFP Omar Salim Mufta, um habitante da cidade de 27 anos.
No entanto, a localização exata das tropas de Kadhafi era difícil de determinar. Para um rebelde de 24 anos, Kemal Abdel Mohamed Abdel, elas "estão a uns 20 km" de Ajdabiya, mas para Milud Ghait, de 48 anos, as forças governamentais estão na saída oeste da cidade. Ghait lamentou ainda que a Otan não tenha intercedido contra elas.
No sábado, os disparos de foguetes das forças governamentais a meio caminho entre Ajdabiya e Brega causaram oito mortos e 27 feridos, segundo o último balanço fornecido no domingo à AFP por fontes do hospital de Ajdabiya.
No oeste do país, em Misrata, os combates foram retomados com força ao meio-dia. Segundo um fotógrafo da AFP, os combatentes leais a Kadhafi estariam cada vez mais isolados. Os insurgentes garantem ter conquistado posições das forças pró-Kadhafi durante a noite.
No hospital da cidade, os médicos disseram ter recebido neste domingo muitos feridos. "A situação se complica. Há muitos ferimentos de bala na cabeça", indicou um médico que se apresentou sob o pseudônimo de Mohamad al Misrati, dando a entender que o regime enviou atiradores muito bem treinados.
Os rebeldes de Misrata, mais bem organizados que em outras partes do país, destruíram no sábado quatro tanques escondidos em casas para evitar os bombardeios da Otan, depois de tomar posse de um campo do exército governista.
Em vários bairros da cidade, eram vistos restos de bombas de fragmentação, constatou a AFP. Acusado pelos defensores de direitos humanos de utilizar este tipo de arma, o regime líbio desmentiu a informação.
Ainda mais a oeste, moradores de Nalut, perto da fronteira com a Tunísia, se dirigiram à cidade de Zenten para buscar reforços. Segundo eles, houve intensos combates na região, em um momento em que as forças pró-Kadhafi tentam bloquear completamente a fonteira, oficialmente fechada, embora "porosa" em certos pontos.
Em uma entrevista publicada neste domingo pelo jornal Le Parisien, o ministro da Defesa francês, Gerard Longuet, estimou que "ha um certo risco de que a guerra possa durar, já que Kadhafi e a Líbia não são completamente previsíveis".
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, repetiu neste domingo que não planeja "uma invasão ou uma ocupação". "Não se trata de enviar soldados ao local", afirmou, embora tenha reconhecido que esta limitação torna as coisas "mais difíceis".
O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, declarou que é preciso "manter a pressão militar" na Líbia, e afirmou que a renúncia de Kadhafi é o "objetivo principal" da coalizão internacional.